terça-feira, 27 de novembro de 2007

Mulheres Do Nosso Brasil: A Rê Bordosa

Mito maior da noite paulistana dos anos 80, essa é uma figura que faz falta aos apreciadores da boemia e da (sem rodeios, por favor) vagabundice desenfreada e sem limites – Rê, porque você se foi??? Eu te amava, porra!!!
Hah, falando assim, parece até que "Rê" é (foi) uma pessoa real, próxima e que realmente fez parte da minha vida ou da de alguém. Bem, na verdade não necessariamente… Rê era uma mulher sim, mas de papel e suas aventuras se passavam numa São Paulo muito parecida com a nossa, com tipinhos bizarros muito parecidos com os que a gente encontra por aí e bibocas similares às mais podres e pérfidas bibocas que a noite de Sampa pode oferecer.
Agora, se mesmo sendo "apenas" uma personagem de quadrinhos, nossa querida Rê tinha tanta personalidade à ponto de ser considerada por muitos como uma pessoa "real" bem… kudos for Angeli, o "pai" da moça. Ele merece por ter criado uma personagem tão próxima da realidade, onde nela podem ser encontradas inúmeras qualidades (dependendo do tanto de biritas) que podem ser identificadas em tantas das nossas "mulheres de carne" da "vida real".
Falando sério, deixando um pouco de surfar na Hellman´s, Rê Bordosa foi na verdade uma tira que fez muito sucesso na década de 80, onde a personagem principal perambulava pela noitada de São Paulo, sempre à procura de "algo mais" no famoso trinômio Sexo, Drogas e Rock n´roll. Essa sim sabia viver. Seu comportamento era destrutivo, excessivo, extremo… era uma mulher de fortes emoções. O mais engraçado é que com tantas técnicas narrativas modernas nos quadrinhos recentes, é quase impossível impor personalidade em uma tira de 3, 4 quadros que tenha um personagem que tenha características definidas e que passe um clima particular À historia em si, mas nas historias da Rê Bordosa tinha tudo isso. A própria "puta velha" era um verdadeiro livro aberto (entre outras coisas também abertas, como muuitos puderam comprovar). Tem coisa que rolava ali que deixariam muito leitor da Vertigo chocado.
Parece que com o passar dos tempos, as tiras estão perdendo seu espaço que (bem antigamente) dominava quase todo – na verdade foi o início de tudo. Spirit, Fantasma, Charlie Brown e outros vieram de lá. Sem as tiras, Não teríamos por exemplo… Civil War, que pra muitos nerds por aí é mais importante até do que o pai ou a mãe – ou ambos. Não vou pagar de professor de história, mas só pra terminar aqui, depois que acabaram as tiras do Calvin, isso em 96, não surgiu nenhum personagem que marcasse época, que tivesse o "algo mais", o diferencial que o faça ser melhor do que o resto. É como no rock: depois do Nirvana, tiveram muitas bandas espetaculares, mas nenhuma conseguiu preencher a lacuna depois que o Kurt Cobain estourou sua cabeça genial com uma 12 no dia 5 de abril de 1994 – por isso, que ainda vamos ver por muito tempo ainda essa pivetada de 15, 16 anos com suas camisas pretas acinzentadas com a cara do Kurt (na maioria, mal) estampada nelas, com suas guitarrinhas toscas amarradas em fivelas de cinto acahando que a tão abafando tocando "Smells Like" e as gravadoras e a mídia "especializada" à procura do "novo Nirvana", assim como eles eram os "novos Beatles" e como já disseram que os Strokes, o Vines, o White Stripes eram o "novo Nirvana" e nenhum deles… aaaaaaaargh!!!! O que eu quero dizer é que a saudosa porraloca se foi e sua falta ainda é sentida por uma boa galera. Depois dela, não teve no Brasil nenhuma personagem que chegasse perto de seu carisma indefectível e popularidade.
Essa verdadeira alma noturna, nos 4 anos que duraram suas tiras que saiam diariamente na Folha de S. Paulo, curtiu a vida adoidado, muuuuuuuuuito mais que Ferris Bueller. Perambulando por boates, pulgueiros e afins e sempre acompanhada de seres perdidos tão disfuncionais quanto ela, Rê Bordosa inspirou e foi inspirada por uma geração de mulheres que sabem o que querem da vida e não se envergonham disso. Ela refletia a mulher decidida e independente e muito bem resolvida, sempre disposta À dar uma boa assistência - um tipo que faz muita falta em certas horas – principalmente numa noite fria.
Foram 4 anos de pura esbórnia, depravação e escracho total. Os anos 80 nunca pareceram tão coloridos quanto naquelas tiras preto e branco. O traço, a linguagem e o ambiente passavam o clima da maneira certa, só faltava mesmo rolar de fundo uma trilha sonora que podia variar do velho roquienrol ao funkzão estilo Parliament. Rê Bordosa era eclética e com ela não tinha tempo ruim – até mesmo porque ela estava sempre debaixo dum (aconchegante) teto de bar.
Pô, eu mesmo conheço um monte de Rê Bordosas por ai. Várias. Em qualquer balada – ou fora, caída numa vala, vomitada sob bitucas de cigarro e com o cabelo queimado – sempre terão representantes em vida do Rê Bordosa way of life.
São mulheres escrachadas, desbocadas, e desaforadas (como dizia um finado amigo meu) que falam o que pensam (quando pensam), fazem o que querem e que querem que o mundo se foda (e de preferência, junto com elas). É a famosa mulher faceira: dê-lhe dois goles e depois passe-lhe a rasteira. Pode parecer um puta machismo isso, mas hipocrisia não é comigo. A noite é podre e nela tudo pode acontecer. E quem tá na noite VAI se molhar – de várias maneiras, é só ter um pouco de imaginação – e disposição.
Não se sabe até hoje (pelo menos eu, não sei) porque o Angeli decidiu matar uma personagem tão popular e querida como era a Rê Bordosa, mas seja como for, a nossa querida puta velha (como era carinhosamente conhecida) deixou uma enorme e verdadeira Legião Urbana de fãs como uma certa velha bicha louca - não vou dizer quem é, mas aqui tem um texto bem legal que eu escrevi sobre ele.
Sua frase preferida era: "Não nasci para ser a cura e sim a doença." (Essa foi pra f**** com os fãs do Stallone Cobra). Com essas palavras, fico por aqui imaginando como o inferno se tornou um lugar bem mais divertido depois que a amada puta velha baixou por lá. Hitler, Pinochet, ACM, Roberto Marinho e o Papa João Paulo II é que devem tá se dando bem por lá… filhos das putas.
Saca só essa: pra matar a saudade da velha porraloca, temos aqui um especial do Chiclete com Banana (a revista, não a banda de axé) escaneado pelo pessoal do Rapadura Açucarada e do GIBI HQ (devido crédito à quem merece) que além de um apanhado geral de toda a vida da putrisca, ainda vem com uns textos complementares e até uma entrevista com a alma noturna mais famosa do Brasil.
http://www.4shared.com/file/30551065/d9d4af39/ChicletecomBanana_EspecialRBordosa_AMortedaPorraloca_HQ19MAR06GIBIHQ.htmlE junto, um som a altura: http://www.4shared.com/account/file/30556405/155098da/Ultraje_a_Rigor_-_Sexo.html?sId=lRJ85RwE0xan5waJnão pode ser outro se não Sexo do Ultraje A Rigor.
Sambarilove e até a próxima, SEUS PUTOS!

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