quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Guerra Civil - Linha de frente








Bem amigos, está saindo pela Panini a mega-saga da Marvel, Guerra Civil – Civil War no original – que talvez seja a mais polemica historia já publicada em 45 anos da editora americana.

Em sua metade sendo publicada aqui no Brasil, já ocorreram diversos momentos surpreendentes, alguns totalmente forçados, apelativos e duvidosos, com conseqüências que serão sentidas nos próximos anos, nas revistas que compõem o Universo Marvel tradicional.

Segue abaixo um resuminho básico e alguns comentários sobre a saga que estremeceu as bases do
universo Marvel, mudando a vida de seus personagens.

A história (mais que manjada) até o momento:

Durante um combate entre os Novos Guerreiros (que são protagonistas de um reality show, história essa não publicada no Brasil) e alguns vilões fugitivos da Balsa, ocorre um gravíssimo acidente (como se isso já não tivesse acontecido umas 300 vezes antes na Marvel) que devasta a cidade de Stamford, Connecticut nos Estados Unidos, deixando mais de 600 mortos, entre eles os próprios Novos Guerreiros e várias crianças que estavam em uma escola nas proximidades da batalha. Com isso, ocorre uma pressão por parte da opinião pública à favor da Lei de Registro de Super Humanos do governo, que determina o alistamento de todos os… super humanos, é claro, tornando suas identidades públicas e respondendo diretamente ao governo, atuando como oficiais autorizados, sob o risco de prisão, se resistirem.

Com isso, acontece um racha na comunidade de heróis, divididos em dois lados: os favores ao registro e as identidades civis públicas, com a liderança do e os rebeldes, seguidos pelo Capitão América. A partir daí, é uma sucessão de combates sem sentido, personagens descaracterizados, e mudanças radicais que levaram certos personagens a um beco sem saída, deturpando décadas de história em prol de um evento passageiro e das vendas momentâneas, causando um desserviço ao próprio personagem e aos seus vários fãs que não se agradaram por algumas dessas mudanças.

Rumo À Guerra Civil

Antes de tudo, é preciso fazer uma análise básica do passado recente da Marvel antes de Guerra Civil pra poder comentar o evento.

Dos 2 últimos anos pra cá, tivemos a volta dos mega eventos, as grandes sagas que interligam vários – senão todos - os títulos das editoras, resultando na sua grande maioria em conseqüências nem sempre felizes. A Marvel vinha de seu último grande crossover – Dinastia M (House Of M) e reminiscências: Dizimação M. 198… e mal teve tempo para se trabalhar em cima dos acontecimentos posteriores à esses eventos e já emendaram com outra mega-saga, maior ainda que é Guerra Civil.

Talvez isso ocorreu para não ficar atrás de sua maior concorrente a DC Comics, que estava abocanhando uma fatia do mercado que anteriormente era dominado pela Marvel, com suas sagas recentes: Crise Infinita, 52, que se tornaram sucesso de público e critica. Então, para manter o interesse dos leitores e atrair a atenção para si, a Marvel preferiu optar por realizar logo em seguida de uma grande saga, outra muito maior e com objetivos mais ousados do que sua predecessora.


O resultado disso é Guerra Civil, uma mini série mensal em 7 partes que nos EUA sofreu diversos atrasos, afetando os outros títulos mensais interligados com a saga (praticamente todos). Guerra Civil tem Mark Millar no roteiro, Steve Mc Niven desenhando e as cores ficam por conta do ótimo Morry Hollowell que complementou muito bem o traço de Mc Niven com seu trabalho. Millar, que é um roteirista idolatrado pela comunidade de fanboys pelo mundo, nesta mini série está bem abaixo da média, diferente de alguns de seus trabalhos mais conceituados como os dois volumes dos Supremos, The Authority, a mini do Super Homem – Entre A Foice E o Martelo e os altamente subestimados Ultimate X-Men e Ultimate Fantastic Four.

Defendendo O Meu Lado

Ao ler Guerra Civil (e eu li toda a mini serie no ano passado) e outros trabalhos do Millar, fica a impressão de que ele deve ser um roteirista de cinema frustrado e que desconta sua frustração escrevendo gibis. Calma, nerdalhada indócil que eu vou explicar o meu ponto de vista:

Assim como Supremos, Authority, Wanted, sua passagem por títulos mais mainstream como Homem-Aranha e Wolverine e qualquer obra de Millar que saiu depois de seu estrelato, (antes de ser um escritor pop star, Mark Millar começou como “protegido” de Grant Morrison, co-escrevendo com ele títulos como Swamp Thing, Aztek – The Ultimate man, Flash e Vampirella) Guerra Civil tem alguns de seus “cacoetes” mais manjados, fáceis de serem percebidos pra quem leu as historias citadas acima: narrativa cinematográfica, cenas de impacto, momentos “Cavaleiros do Zodiaco”, frases feitas, personagens agindo fora de seu contexto… isso só pra ficar em alguns. Por exemplo: pegue qualquer historia escrita por ele e conte quantos “Oh, mas não sei o que…”, “Ah, fulano, mas bla bla bla…” vão ter. É como se todos os personagens fossem ingleses afrescalhados e arrogantes ou bon vivants canastrões.

Prestando bem atenção, todas as historias de Mark Millar seguem o padrão de seu mentor: grandes épicos com várias reviravoltas e temáticas sempre ousadas, mas diferente de Morrison, Millar não tem grande conhecimento de cronologia, se baseando unicamente nos pilares básicos da época do Stan Lee, o que compromete muitas vezes suas historias, principalmente no Universo Marvel tradicional, que depende muito da cronologia. Em entrevista à edição 192 da Wizard americana, comentando a mini-série, ambos, escritor e desenhista admitem que não conheciam a maioria dos personagens em que estavam trabalhando e que em algumas vezes sequer sabiam seus nomes. Desse modo, fica claro a escolha aleatória dos personagens durante a história, explicando assim, o por que de não ter por exemplo, uma razão lógica de cada personagem ter escolhido determinado lado no conflito.

Aí entra como suporte à saga, as revistas mensais que complementam e fazem o que a mini serie não foi capaz de fazer: deixar claro para o leitor do que a historia se tratava, pois na mini-série isso é praticamente impossível, é muita coisa acontecendo de uma vez só e a narrativa é muito atropelada, deixando um senso de coisa feita às pressas na maioria das vezes. As revistas de linha que mais estão interligadas com o evento são a dos Novos Vingadores do Bendis, que durante a saga, cada edição foca um personagem e as do Aranha que foi o personagem mais afetado pela saga e depois dela. Outros títulos legais também de se acompanhar no período de Guerra Civil: Mulher Hulk (muito bom, principalmente a reação do Jameson ao que tá acontecendo), Miss Marvel, Capitão América (onde todo mundo já sabe o que vai acontecer…), Quarteto Fantástico e o sempre espetacular X-Factor do Peter David. Fora uma porrada de mini-series e edições especiais também interligadas, a maioria desnecessária, mas algumas garantem um maior entendimento da historia.

Reportando A Guerra

Sobre a historia em si: é um exagero a reação tomada pela opinião pública ao incidente de Stamford, ainda mais se levarmos em conta que acontecimentos mais graves do que o provocado pelos Novos Guerreiros acontecem o tempo todo no Universo Marvel: quantas vezes o Hulk sozinho fez mais estragos do que essa explosão do Nitro? Só pra ficar em alguns mais recentes: a invasão de Kang na revista dos Vingadores na fase do Kurt Busiek, a destruição de Nova Iorque pelo Xorn que não era Magneto, que não era Xorn… e o massacre da Tropa Alfa e de uma cidade canadense inteira nas edições recentes de New Avengers. Todos estes foram incidentes mais impactantes do que o ocorrido em Stamford. E será que em nenhum desses tiverem vitimas infantis?

O diálogo entre a nova diretora da Shield e o Capitão América na primeira edição foi muito bom, um dos pontos altos da saga em seu todo e o combate do Capitão contra os soldados foi bem “coisa de cinema” – típico do Millar. Agora estranho é pensar que como duas pessoas que durante um longo tempo foram os melhores amigos (apesar de algumas divergências de vez em quando) como o Capitão América e o Homem de Ferro, de repente se tornarem inimigos ferrenhos, um querendo a cabeça do outro por causa de uma lei governamental, sem nem mesmo conversarem antes. Até então, eles eram parceiros de equipe e do nada, cada um está recrutando soldados para seu bando, com o objetivo de acabar com a raça do outro como se o grupo oposto fossem os piores inimigos da humanidade e não heróis que até ontem eram parceiros na luta ao crime e defensores do american way of life e bla bla bla bla bla.

Seguindo nessa linha de brechas da historia, outra coisa bizarra é o fato de a Shield e os heróis pró registro já sairem na captura dos rebeldes logo em seguida a implantação da lei, não dando nem tempo para que haja o registro voluntário. E como já foi citado acima, na mini serie não fica claro por quê determinado herói está de um lado e não de outro, a maioria servindo apenas como figurantes sem diálogos e agindo como meros robôs desprovidos de consciência, bem no naipe de personagem da Malhação.

Como leitor há 20 anos da Marvel, quase todos os personagens centrais da trama ficaram irreconhecíveis em suas atitudes e posturas pra mim: Reed Richards “cobrinha” no enterro do Golias, Doutor Estranho frouxo, Hank Pym histérico – isso é muito datado – Homem-Aranha super arrogante, fugindo totalmente da personalidade dele e o Capitão América agindo como sua contraparte Ultimate – isso vai ficar ainda mais evidente nas próximas edições. O mais fiel em sua interpretação, por incrível que pareça, foi o Homem de Ferro, agindo exatamente como ele é: um homem de negócios, que não mede esforços para realizar seus objetivos, mesmo que passe por traira aos olhos de seus ex “parceiros”. A Mulher invisível, o Tocha Humana, Emma Frost e o Pantera Negra também cumprem seus papeis.

Outra coisa à ser comentada é o excessivo uso de cliffhangers – cenas usadas para causar impacto – na mini-serie: fuga do Capitão, revelação da identidade do Aranha, aparição do Thor que não é Thor, “fim” do Quarteto Fantástico, recrutamento dos vilões pra capturarem heróis renegados… algumas vezes, esses momentos foram bem colocados e em outras ficaram totalmente gratuitos, sem considerar o que será feito disso futuramente. Exemplo disso é o caso do Homem-Aranha, que perdeu mais um de seus elementos clássicos, a identidade secreta. À curto prazo é interessante trabalhar com as conseqüências disso e a mudança radical no status, mas todo mundo sabe que isso não vai durar pra sempre e no momento já estão bolando lá nos States alguma saída porca (a medonha One More Day) pra reverter o que aconteceu aqui. O pior é que em momentos onde seriam melhor aproveitar esses cliffhangers, como “a volta do Thor” na edição 3, eles foram frouxos e puxaram o freio dizendo que era apenas um clone – saída usada freqüentemente, assim como os Skrulls – que já foram usados à exaustão também e continuarão, com a próxima pérola que vêm em seguida: Secret Invasion, mas isso é um assunto que fica pra próxima…

Certo, dá pra entender a justificativa: se caso aquele que aparece no final de Guerra Civil 3 fosse realmente o Thor, isso diminuiria em parte o impacto da edição anterior, onde o Peter assume publicamente sua identidade – pelo menos foi isso que disseram – mas o que não entra na minha cabeça é o seguinte: chega um vilão e ameaça dominar o mundo, roubar um banco e essas coisas vilanescas… ai vem o herói e bota ele na cadeia, depois o governo solta esses vilões que foram presos em primeiro lugar e botam eles de volta as ruas pra capturar os heróis que os prenderam? Sem noção, Joselito!!!

Agora pra fechar, 3 pontos à se prestar atenção:

1 – falta de coerência entre a série central e revistas interligadas: parece que teve uma puta falha de comunicação entre os diversos editores da Marvel envolvidos no evento. Muitos personagens agem de diferentes formas em cada revista. Isso, mais algumas discrepâncias cronológicas, acabam dificultando o entendimento e a coerência da saga como um todo.

2 - Os Combates: aqui no Brasil só saiu metade da saga e quantos quebras de super-herois você já viu até agora? A esta altura já era pros Estados Unidos estarem totalmente devastados e nenhum herói vivo, pela quantidade de batalhas ocorridas, tanto na mini quanto nos títulos mensais.

3 –A arte: ficou perfeito o casamento entre arte e cor da mini-série. O colorista Morry Hollowell foi muito competente em seu trabalho e complementou perfeitamente o traço de Mc Niven – que pra mim não seria o mais indicado pra ilustrar essa série, calando a boca de quem diz que a cor não é importante numa historia em quadrinhos. Méritos para os editores: essa foi uma parceria entre arte e cor tão boa quanto da dupla Alex Maleev e Matt Holingsworth em Demolidor.

Guerra Civil até o momento vem apresentando o que já era esperado pra quem acompanha as historias da Marvel nos últimos anos e principalmente o trabalho do Mark Millar: momentos bombásticos, apelativos, personagens descaracterizados, referencias a marcas e cultura pop, falta de concordância e desconsideração à cronologia. A edição 5 daqui a pouco sai por aqui, com a volta do Justiceiro ao Universo Marvel, que vai reforçar mais ainda o que digo aqui.

Talvez por estar em um momento difícil e sofrendo de uma grave doença ao escrever Guerra Civil, este é o trabalho mais fraco de toda carreira de Mark Millar – ele disse em entrevista à Wizard que escreveu a maioria da historia quando estava internado, se tratando de uma doença degenerativa que sofre já há alguns anos. Apesar de ser sempre criticado por construir historias espetaculares no inicio e finais decepcionantes, Guerra Civil mantém um nível mediano e agradou a maioria dos leitores tanto aqui quanto nos States, quebrando alguns recordes recentes de venda e chamando a atenção de novos leitores e da mídia, mas mesmo assim, foi mal planejada e executada em vários momentos. Em certas partes do evento, a narrativa cinema blockbuster de Millar não pegou e isso banalizou e reforça mais a idéia anterior de que ele – assim como outros roteiristas seguidores de seu estilo – são roteiristas de cinema frustrados, que encontraram nos quadrinhos o único meio de levar suas visões revolucionarias à alguma visibilidade.

Com o anuncio de que Millar escreverá o próximo filme do Super-Homem, é possível que saia daí o melhor filme de heróis de todos os tempos: o próprio Millar se diz um grande fã do Azulão, já teve uma boa experiência ao escrever a adaptação da versão animada do desenho do Super e sua narrativa e estilo exagerado de escrever é perfeito para o tipo exato que um filme do Super-Homem seja: batalhas épicas, efeitos especiais revolucionários, frases de efeito, grandes vilões (como isso faz falta nos filmes do Super) e tudo aquilo que faz parte de uma mega produção campeã de bilheteria. Demorou para os produtores de Hollywood perceberem que pra se fazer um bom filme de herói e principalmente de um grande personagem como o Super, é melhor deixar na mão de quem entende da coisa. O cinema de super-heróis precisa disso e eu boto muita fé que quando sair esse filme, ele será espetacular. E sem as amarras de cronologia bagunçada e interferências editoriais, finalmente Mark Millar vai ter a oportunidade de mostrar que realmente é um grande roteirista – de quadrinhos E de cinema. Só não pode chamar o Joel Schumacker pra dirigir e o Jon Peters (o cara que queria fazer um Super que não voava e sem uniforme em sua versão que seria escrita por Kevin Smith) pra produzir, que de resto tá tudo OK.


Pra quem tá acompanhado o que tá saindo por aqui, ainda vem muita coisa pela frente e mais acontecimentos “bombásticos” estão à caminho. O mundo pós Guerra Civil está vindo aí e é muito difícil pra quem leu tudo isso que tá saindo aqui há um ano atrás, falar alguma coisa sem citar nenhum spoiler, mas apesar desta critica ao evento ter sido negativa e pessimista em muitos momentos, muita coisa boa surgiu depois disso com certeza e um titulo pra se ficar de olho depois que Guerra Civil acabar é Novos Vingadores, que logo em seguida já vai preparar o terreno para a nova grande mega saga que tá vindo aí nos Estados Unidos: a invasão Skrull. Aí vai ser a vez do Brian Bendis mostrar se vai ser capaz ou não de lidar com um evento em larga escala no universo Marvel, sem muitas falhas (Dinastia M não conta) e sem deixar cagadas nos próximos anos. Mas antes disso, ainda tem World War Hulk, outra mega saga, desta vez com a volta do Verdão, que vem pra esmagar tudo, depois dos eventos que tão rolando alheios à guerra Civil, em Planeta Hulk É saga que não acaba mais… esse negocio de mega-eventos interligando um porrilhão de revistas é mesmo uma vaca gorda – tão gorda quanto o próprio Quesada, que tá ficando cada vez mais rechonchudo, parecido com um porco no rolete, daqueles que são servidos em churrascadas nos rodeios por aqui. (tinha que acabar este texto com alguma piada de mal gosto, só pra não perder o costume)

Saca só essa: pra ficar no “óvio”, como diz um corno que eu conheço, a música de hoje tem que ser Civil War do Guns: http://www.4shared.com/file/27394212/260fb80d/08_Guns_n_Roses_-_Civil_War.html só que esta é ao vivo e ao lado, links de sites com todas as revistas que compõem a Guerra Civil – as mensais, mini-series complementares e tie ins, pra quem quiser economizar algum e comprar meio quilo de carne (ou menos) pra fazer um churras com os amigos: http://civilwar.4shared.com/ e http://tudofreedownloads.blogspot.com/search/label/Marvel

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Uma Verdade Inconveniente


Parte 1 – Hipocrisia E Dualidade



Este ano, tivemos vários acontecimentos impactantes, revoltantes na sua maioria, que mobilizaram a opinião pública, alguns tendo sido super-expostos pra depois caírem no esquecimento – como o caso Renan… agora que ele se licenciou, mal se comenta sobre o assunto no Senado, mesmo ele estando com CINCO processos nas costas no Conselho de “Ética”. Mais uma vez, a mídia do esquecimento vai entrar em ação e o garoto vai continuar numa boa curtindo uma bela e saborosa pizza (de calabreza, aposto) e mais um rolo inconcluso vai ficar para a história – e quanto menos se falar nisso, melhor.

Quer outro exemplo? A crise aérea que vem se arrastando desde o ano passado, cuja conseqüência mais grave foi o maior acidente aéreo da historia, com 199 vitimas em julho. O que mais se falou disso? Pra se ter uma idéia do quanto esse assunto está tão ultrapassado, até o bode expiatório que eles arranjaram na época, o empresário Oscar Maroni Jr., meu amigo pessoal e dono da casa noturn… ops, “balneário recreativo para adultos” Bahamas, já é noticia velha. Maroni, que foi preso ao se constatar que o prédio que estava construindo para seu novo hotel ultrapassava a altura máxima necessária para decolagens no aeroporto de Cumbica. Só o que eles não fizeram questão de dizer é que alem de esse com certeza ser um risco para a segurança dos passageiros tem vários outros que precisam ser averiguados e responsabilidades para serem atribuídas para as pessoas incumbidas de cada uma delas. Tudo bem, o prédio na altura que se encontra pode ser um risco mesmo, mas e o chão da pista? E os próprios aviões que alguns já passaram do seu tempo útil e seguro de utilidade? E os órgãos responsáveis pela segurança aérea que são administrados por pessoas que não entendem nada do assunto, os famosos cargos de confiança do governo, (tudo pela família) onde a competência é a ultima coisa que importa? Bem, tem diversos fatores para ressaltar aqui, mas o mais grave deles com certeza, é a porra do puteiro do lado do aeroporto. Cara, que puta safadeza isso (e esse trocadilho grosseiro também)! A moral acima de tudo, patriarcais que somos! Pois bem, fecharam o puteiro, prenderam o dono, o piloto que não tá aqui para se defender foi o culpado e os cargos da ANAC continuam a serem negociados pelas legendas em troca de favores políticos – e não se fala mais nisso, porque o importante agora é aprovar a CPMF e garantir que o STF não meta nos conchavos e tramóias partidárias. Resolver problemas pendentes de ética (essa ilustre desconhecida) no Senado… crise aérea – quem morreu, morreu… reforma política, segurança pública… pra que? A mídia tem o poder de fazer um puteiro ter mais importância do que tudo isso.

Em tempo: Oscar já foi solto, logo que as “providencias mais urgentes” à respeito da queda do avião da TAM que matou 199 pessoas em julho foram tomadas. Não se pode dizer que ele não fez sua parte: enquanto as investigações – meio que na má vontade - sobre o acidente corriam pela moita, ele curtia sua celinha de luxo com TV a cabo, quem sabe, com visitas privativas de algumas de suas funcionárias – nada mais normal…o cara é dono de um puteiro, oras! Mas segundo o Governo do Estado, isso não é permitido. Mais uma prova aberrante da hipocrisia do Estado - que até então desconhecia a existência de boates noturnas, coisa que é proibida por lei. Depois que tudo virou noticia velha, soltaram o cara – e o puteiro reabriu! Ou seja, agora que já se passou o período de luto, pode voltar a putaria, só não pode é derrubar avião, de resto… porra, pensando melhor,eu bem que gostaria de ir lá um dia, curtir a vista dos aviões – as garotas, não os da TAM. Tenho muito apreço à minha vida, que fique bem claro.

É mais ou menos assim: quando surge um escândalo que pode afetar o funcionamento da máquina como está, cômodo para quem interessa, de primeiro a mídia bate em cima impiedosamente, cumprindo o seu papel de defensora da opinião publica e do direito do povo à informação, só pra constar. Ai o povo mostra sua indignação, entra em ação as Ong´s de finalidades e utilidades excusas e seus militontos, suas marchinhas revoltadas, os intelectualóides e pseudo “sociólogos”, “historiadores”, “pensadores” se reúnem nos barzinhos de suas faculdades para seus debates etílicos e baseados (this is not a chiste) em sua visão algumacoisaista, (marxista, trotskista, stalinista, lobbysta, porrista…) donos da verdade que são … um monte de merda. Quando o assunto começa a tomar grandes proporções… acontece alguma outra coisa que desvia toda a atenção nacional para ela. Alguma coisa fodidamente terrível que faz o fato anterior ser algo totalmente inofensivo e insignificante como um… sei lá, um anão sem pernas. Enquanto isso, vão se apurando “fatos”, a coisa começa a relaxar, afrouxar, o que era grave ontem, hoje já não é tão importante…Depois, o que era noticia durante 3, 4 telejornais ao dia, vai ficando cada vez menos noticiado, jogado lá pro meio do noticiário, entre a velhinha que ganhou na loteria em Santa Rita do Passaquatro e o jogo do Vascão pela Sul Americana. Aconteceu com o mensalão, quando no auge das investigações prenderam o Maluf… ta, qualquer debilóide sabe que o Maluf é um puta dum ladrão demoníaco, desgraçado e tudo mais… mas por que foram prender ele justo naquele momento, no auge do escândalo com o governo? Porque ele não foi preso nos anos 80, na época da Paulipetro, quando ele era o Governador do Estado? Ou quando ele estava na prefeitura de São Paulo, no começo dos anos 90? Porque naquela época, ele era intocável? Já no momento do mensalão, do Valerioduto, grana na cueca e do caseiro do Palocci, quer um bode-expiatorio melhor do que o ladrão político mais notório do País? E foi a mesma coisa que com o Maroni: depois que aliviou as coisas lá em Brasília, o Malufão e seu filho foram libertados, não antes de ter sido execrado em rede nacional pelo Fantástico e por outros meios de comunicação. Você acha realmente que aquele tempinho que o Maluf passou na prisão foi o suficiente para ele pagar por todos os crimes que ele cometeu? É por isso que a pesar de tudo o que eu disse aqui, eu como muitos (pelo menos uns 10) milhões ainda voto no Maluf – um dia, eu explico por quê. Mas não agora. O inimigo do estado no meomento é a pirataria e a venda ilegal de carteirinhas de estudante. Esses malditos falsificadores…A bola está com eles agora – pelo menos é o que diz a Globo.

Na verdade, o mote deste texto é o de falar um pouco sobre a cultura dos scans de revistas, pirataria de softwares, mp3, filmes, tênis, óculos escuros, enfim… e como isso afeta o mercado fonográfico, cinematográfico, editorial… e tentar estabelecer relações sobre como algo de relevância menor no esquema geral pode ser utilizado como bode expiatório para encobrir e desviar a atenção de algo muito mais grave ocorrendo, mas que não é da (má) vontade do sistema de mudar. Ou seja: o Zé Buceta e sua banquinha de cd´s falseta (rimou!) é um mal maior do que o agora ex Presidente do Senado com 5 processos no Conselho de ética do próprio Senado ou o mal estado em que se encontram as estradas brasileiras, aeroportos e a segurança pública.


Parte 1.2 - Moral e Ética X Vida Real

Se tem uma coisa – entre tantas outras - que me deixa puto, é gente “moralista”. O que é “moral”? Quem define os padrões de moralidade? Onde, em que lei universal, por exemplo diz que um cara ser partido no meio num gibi ou num filme é moralmente permitido e um par de belos peitinhos, não? É estranho, né? Essa mesma moral que eu vi ser alardeada incessantemente, vem sendo o assunto da moda nestes últimos meses. O maior exemplo disso é ver a Globo (sempre ela) batendo pesado na venda ilegal de carteirinhas de estudante e na venda de produtos ilegais – a chamada pirataria, por meio de campanhas publicitárias de “conscientização” ou botando o seu departamento de jornalismo para trabalhar duro contra a pirataria.

Não vale entrar aqui no mérito de que a Globo deve fazer isso porque é dela o maior prejuízo que disso advém, seja porque lhe pertence praticamente toda a produção de cinema nacional, a maioria do efetivo dos artistas de MPB principalmente fazer parte de sua gravadora, Som Livre ou de possuir a alma de quase todos os atores nacionais, sejam eles do cinema ou teatro… isso não tem o que questionar. A Globo mais do que qualquer outra emissora do Brasil, é uma empresa. Uma mega empresa que visa lucros – e é extremamente bem sucedida nisso – e se algo está obstruindo o seu ganho, ela tem mais é que combater isso com as armas e recursos que mais lhe aprouver, para garantir seus direitos. É a maior emissora do Brasil e uma das maiores do mundo! Não foi sendo branda e compassiva que a rede do “nosso pai” Roberto Marinho se tornou o que é hoje. É o que eu digo quando vem um filho da puta, uma vaca pra mim e fala que ficou revoltado(a) porque parou de passar a série do Angel na Globo, terça às 3 da manhã ou que acha as novelas e o futebol de fim de semana uma merda de mal gosto e que foi uma sacanagem censurar as cenas mais violentas do Samurai X. Porra… ta mais do que certo! Que se fodam os 5 fãs do Angel que viravam as madrugadas de segunda pra terça pra assistir o vampiro canastrão… Eu sou muito fã de Samurai X, mas se o horário não é próprio pra criançada assistir as aventuras do nosso bom retalhador e as mães estão indóceis, Bob Esponja neles! E novela e futebol na tv é uma merda? Só nerd e roqueiro revoltado que acha isso. Aposto que as mães de todos eles prefere assistir o Fagundão ou o Tony Ramos do que um episodio de Naruto (e os anunciantes também). Enfim, analisando pelo viés comercial e administrativo, a Globo é um exemplo de visão corporativa à ser seguido por qualquer empresário que queira ser bem sucedido, seja de qual segmento. Eticamente… nem tanto…mas… o que é moral e ético? Se você me perguntar, eu sinceramente vou pensar, pensar e dizer que não sei explicar, mas não preciso saber também, pois tem tantos defensores ferrenhos da moral e bons costumes e donos da verdade para servirem de exemplo que minha opinião é menos do que nada, nothing, nyet, zipardonio, zilch…

Parte 2 - Vícios

O que é um formador de opinião? Basicamente pode-se dizer que é aquele que por meio de um discurso é capaz de mobilizar um grupo de pessoas a um pensamento ou uma atitude, à uma idéia em comum, de acordo com seu interesse – ou não, como diria Caetano. Geralmente é atribuída à mídia o papel do formador de opinião, o que é um erro. Ele pode ser um órgão de comunicação ou até mesmo só uma pessoa que molda a opinião de uma massa de acordo com a sua própria. Um autor que passa a sua mensagem através de seus personagens numa peça, num filme, num gibi…O formador de opinião pode ser qualquer um – até mesmo o Zé Buceta citado acima. Onde a Globo diz que pirataria é crime, ele se for um cara esperto pode ter argumentos que defendam o que ele faz e assim, a diversidade acontece – os que são à favor e os que são contra qualquer assunto.

Como leitor já há quase 20 anos e entusiasta de quadrinhos que sou, vou falar um pouco do mercado de quadrinhos como eu o vejo e o papel dos scans nisso tudo.

Tenho 25 anos e leio gibis desde que eu tinha 5, 6… lá pros idos de 87 - na verdade, então, eu já leio quadrinhos há mais de 20 anos. Acho que é a negação de tá ficando velho, já tô chegando aos 30 daqui a pouco… Seja como for, pra quem é fã de HQ vai ficar mais fácil de acompanhar e entender o que eu vou dizer aqui: naquela época, 87, 88 foi um dos melhores períodos das historias em quadrinhos no Brasil: Demolidor de Frank Miller, X-Men Claremont / Byrne, Novos Titãs da fase Wolfman / Perez, Crise Nas Infinitas Terras, reformulação na DC… eu peguei tudo isso… muita coisa boa. Mas tudo tem seu preço e naquele tempo, à cada mês era um diferente. Tempos de inflação, Sarney… um gibi que custava 0,50 cz$, no mês seguinte, saia por 6,00 cz$. Com o passar do tempo, as coisas foram se acertando mais ou menos, tendo suas más fases de vez em quando, (época das tabelas em 92, revistas Premium…) mas nada que comprometesse o alimento do vício – eu reconheço que sou um viciado em quadrinhos, leio praticamente tudo o que sai e não tenho a menor vontade de largar, mas sempre tomando o cuidado de não deixar que isso me prejudique demais, seja deixando de acasalar com freqüência ou de passar por um idiota completo ao confundir o mundo real com o fantástico como fazem muitos “nerds” por aí.

Assim como eu, tem muitos outros fãs que também tem suas historias com os quadrinhos e cada um sabe do valor que isso tem em suas vidas, assim como cada um tem sua opinião sobre por exemplo qual editora é melhor, qual herói ganha de não-sei-quem, cada um sabe o que faz de sua vida e o que lê e como adquire o que lê. Um gibi em media custa 7,00 r$, o salário mínimo é 380,00 r$ e não é de nenhuma boa vontade das empresas de pagar um salário justo para seus empregados. Como a Globo, as empresas visam lucros e enquanto tiverem pessoas dispostas a encarar uma jornada de trabalho de 9, 10 horas por dia, de segunda à sábado por míseros 380 paus, sem almoço e condução, a leitura vai se tornar uma coisa cada vez mais supérflua. E priorizando o essencial, o que é supérfluo tem que ser cortado. Então, o Lanterna Verde e o Tio Patinhas que me desculpem, mas eu preciso (e prefiro) comprar um quilo de carne com esses 7 reais do que comprar um calhamaço de papel jornal com um cheiro fortíssimo de tinta, ainda mais que eu sou alérgico à tinta .

As editoras também são empresas e também precisam de lucros para sobreviver, mas eu já defendi o ponto de vista administrativo e ele vai muito contra o meu ponto de vista pessoal: num País em que se ganha tão pouco, um gibi de 7 reais é menos importante do que por comida na minha mesa.

Sendo bem prático: o salário de hoje não tem o mesmo valor de 10 anos atrás. Quem podia se dar ao luxo de comprar seus gibis e isso não afetava suas despesas, hoje tem que economizar pra passar o mês sem apertos. Isso é ponto pacifico e é uma coisa que os “defensores da moral e da ética” esquecem de dizer, talvez por não passarem por essas necessidades vivendo em seus apartamentos no Leblon. Então o leitor de outrora, que não pode mais manter sua coleção e que não quer ficar sem sua cota mensal de diversão e cultura, (por mais que tenham idiotas que menosprezam os quadrinhos no Brasil onde “gibi é coisa de criança”) tem nos scans uma opção de manter sua leitura e no caso de alguns fãs mais hardcore - como eu, seu vicio.

É o mesmo do fã do Calcinha Preta ou do Latino e que não tem 35 paus para pagar no CD original, bonitinho com encarte e legalmente politicamente correto com notinha fiscal. Ele não vai deixar de comprar um cd que custa no máximo 5 pilas, de fundo verde, qualidade porca, sem encarte, (ohhhh, que grande perda) mas que tem as mesmas músicas – que é o que importa mesmo no cd - em detrimento de um original na loja, só porque algum bundão disse em sua pagininha na internet que isso é errado.

Não suporto cheiro de cigarro, mas meu pai fuma e tenho amigos que fumam. E quando o nego não tem 2,50 pra comprar um maço? Vai na banquinha do Joe lá na esquina e você vai achar diversas marcas pra escolher, tudo made in Paraguai. Mas ai a Souza Cruz, com seus cancerígenos politicamente corretos, que faz tudo dentro da lei, paga seus impostos e emprega trabalhadores, sai no prejuízo… fuck up! O importante pro viciado é soltar fumaça, não importa por onde – e nem de onde. Vai fazer mal pro pulmão de todo jeito, mas alivia no bolso. E já que os dois (o politicamente correto e o chicano) matam do mesmo jeito, economizando pelo menos sobra uns trocados pra comprar o cafezinho do velório e o caixão.


Ai entra nosso amigo reacionário bundão dizendo que isso é moralmente anti-ético e que isso é um problema. Sempre vai ter alguém para opinar, criticar, mas pra oferecer soluções, nenhum corno se habilita. E depois vem reclamar que o povo é assim mesmo… que todo mundo tá (mal) acostumado e errado em sempre arranjar um jeitinho… Isso é certo. Somos mal acostumados. Adoramos um jeitinho mais fácil de conseguir as coisas. E quem não é? Oh, mas isso é ilegal. O prefeito da sua cidade desviar verba publica para comprar uma chácara ou um iate também é. Dos males qual o maior? Tenho certeza de que o pião que rebola pra passar o mês com o salariozinho de merda que ganha e sobrar um troco pra comprar o seu “careta”, pagaria 3 pilas numa caixinha de Marlboro, se tivesse condições pra isso, mas como não tem, ele se vira com um Campeão que custa no máximo 1 real e vai esfumaçar o pulmão dele do mesmo jeito. Agora manda o político parar de roubar, seu piadista. E no final qual dos vícios é mais prejudicial à sociedade?

Parte 3 - Scans War: De que lado você está?


Voltando ao rolo dos scans… Como já disse antes, eu sei que o mercado de quadrinhos precisa das vendas pra subsistir, assim como qualquer outra empresa. E que se chegar a um ponto em que ninguém mais compre o que sai nas bancas, essas editoras serão obrigadas a fechar suas portas e conseqüentemente o mercado de quadrinhos deixará de existir. Mas nada é tão simples assim e também não tão preto no branco (até jornal agora é colorido) como os defensores dessa tese querem que pareça.

Por exemplo: eu colecionei por muito tempo a revista do Homem-Aranha, que é o meu personagem preferido e o qual eu acompanho tudo o que sai por aqui desde 88. Dos últimos anos para cá, esse personagem vem passando por péssimos roteiristas e amargando o seu pior momento em todos os seus 45 anos de historia. Mas fã é assim mesmo… é igual “mulé” de malandro, tá sempre junto. Pois bem, ao pagar 6,90 em uma revista do Aranha, eu era obrigado à levar junto uma historia do Venom, a qual eu nem sequer desfolhava as páginas de tão ruim que era aquilo. Não preciso dizer que sei a necessidade (e apoio) de se manter as revistas-mix e que este é o único meio viável de se publicar quadrinhos tanto aqui como na maioria dos outros paises e que também tenho a consciência de que dificilmente esse mix vai agradar à todos os leitores. Só que a indignação de pagar 6,90 numa revista que metade de seu material é descartável continua. É um dinheiro que vai e não volta. Pode não parecer muito, mas 6,90, mesmo sendo uma mixaria é muito se comparado ao salário mínimo de 380 paus. É como eu disse: o que era um dinheirão 10 anos atrás, hoje é trocado de bebum que não dá para comprar nem um quilo de carne. Mas mesmo assim faz falta.

E porque eu insisto no quilo de carne? Vou dizer agora: Eu baixei (mea culpa, mea máxima culpa) uma revista chamada Fell, escrita pelo Warren Ellis, um escritor britânico do qual não sou muuuuuuuuito fanático. Tem umas coisas espetaculares dele (Authority, Planetary, Nextwave) e outras que eu não curti tanto, (Transmetropolitan, Excalibur) mas uma coisa que eu gostei foi o posfácio dessa primeira edição de Fell, (que também não é nenhum épico) onde ele conta a historia da publicação dessa revista.

Basicamente é o seguinte: pra ele (e pra mim também), um dos grandes lances dos quadrinhos é o de você com um punhado de moedas e troco de pão, poder obter uma coisa que vai acrescentar algo à sua cultura ao comprar um gibi. É como dizem do próprio Authority: são mega filmes que nunca serão produzidos porque demandariam um orçamento obsceno e efeitos especiais impossíveis de serem criados, mas que podem ser apreciados no formato de uma revista em quadrinhos, fora que o cinema não conta com a capacidade de narrativa dos quadrinhos, disposição, formas de painéis, etc.

Maaaaaaaaaaaas na prática, não é bem isso o que acontece. Os ditos “trocados” são cada vez mais valiosos e fazem muita diferença no dia-a-dia. Não estamos mais nos anos 80, como o próprio Ellis deixa bem claro em seu texto, e foi aí que ele disse (com toda razão) que hoje é preciso escolher entre sair de uma banca ou livraria com um “pedaço de nova cultura” ou comprar um quilo de carne.

Mesmo sendo um escritor de quadrinhos e que depende da venda deles pra receber o seu bozó, Warren Ellis entende que muitas vezes você tem que abrir mão de algumas coisas supérfluas porque tem de contar cada centavo, mas mesmo que sua leitura básica não seja algo primordial para a sua sobrevivência básica, seria bom que você a tivesse por um custo acessível e justo, um punhado de moedas.

Então o que ele fez? Bolou uma revista com menos páginas que uma revista comum nos States, fazendo o preço dela baixar um dólar a menos do que o preço padrão das revistas de lá, com histórias fechadas em cada edição e auto-contidas, (não precisa de acompanhar outras revistas – os chamados tie-ins, pra entender a história) de forma que o sujeito consiga comprar sua preciosa “fatia de cultura” e ampliar a sua leitura, mas sem abrir mão da carninha pra levar na marmita. Não precisa dizer que essa não foi uma iniciativa que pegou: hoje Fell já não é mais publicado e as revistas de 22 páginas continuam em média 2,99 $ por lá.

E aqui? Quando não são as revistas mix de conteúdo muitas vezes duvidoso, que custam em média 6,90, são os encadernados com acabamento de luxo que na sua maioria, saem por um preço exorbitante e exagerado, sendo um verdadeiro desbunde mesmo para o fã de quadrinhos pagar 70, 80 paus num gibi, por mais espetacular que seja a historia.

Fora que muitas vezes as editoras não respeitam a opinião dos leitores e quando não empurram goela abaixo nos mixes de suas revistas o que ninguém quer ler, deixam de publicar o que eles pedem – por exemplo, em várias seções de cartas das revistas DC da Panini, tinham leitores pedindo a publicação no Brasil das historias do Homem-Borracha do Kyle Baker. Esse material saiu por aqui? Não.

Outra coisa: quem acompanha os noticiários, sabe que em certas épocas a cotação do Dólar cai, o que aproxima o seu valor com o do Real. E que isso acarreta na baixa do preço de alguns produtos como o petróleo, energia elétrica, pão francês e por ai vai. Quer dizer, porque quando baixa o Dólar, baixa a farinha de trigo, o leite, o açúcar, a conta de luz e os gibis continuam o mesmo preço? Porque as editoras só lembram de repassar os acréscimos aos seus leitores? Quando o preço de capa de uma revista sobe, a primeira coisa que eles dizem é que foram obrigados a aumentar por causa da situação econômica do País, por causa do Dólar e bla bla bla… era assim no tempo da Abril e é assim até hoje. Claro que não podemos ser injustos – as revistas mensais de 100 páginas da Panini estão pelo mesmo preço (6,90 r$) desde 2004 – se bem que eles descontam metendo a faca em suas mini-series e edições especiais. E falando em edições especiais… vez ou outra aparece uma Via Lettera, uma Opera Gráfica ou uma Mythos metendo 70, 80 pilas num encadernado se apoiando unicamente no conceito do autor ou na reputação da historia publicada. Eu não consigo deixar de encarar isso como sendo feito de má fé por parte dessas editoras.

Dai surge o impasse: todos queremos ler boas historias, mas a maioria não pode, outros não querem pagar o preço imposto - as vezes autoritariamente pelas editoras – e ai… o que fazer? Deixar de ler? Afinal: “(…)quadrinhos não são artigo fundamental. Você pode viver sem eles(…)” Claro que pode, mas daí a querer, é outra historia. Depois que se pega gosto por uma coisa, seja ela qual for, o estrago já foi feito. É como sexo: dá para viver sem, não é como comer (pensando bem, é sim vai…) ou respirar, mas vai dizer isso pro cara que tem sua rotina sexual definida pra parar de fornicar. No mínimo e com toda razão ele vai te mandar pra casa do carvalho – pelo menos é o que eu faria – em ambos os casos.

Claro que sempre ao se tratar de um assunto desses, a primeira coisa à ser vista é a situação de cada País: nos Estados Unidos, Joe Quesada e Dan Didio, os chefões das duas maiores editoras, Marvel e DC acreditam que os scans não prejudicam a venda de seus títulos por lá e um autor como o Warren Ellis pode se dar ao “luxo” de lançar uma revista, com um preço inferior ao de mercado, sem visar lucro imediato. Aqui no Brasil, a historia é outra: Os títulos principais de super-heróis são publicados em sua maioria em revistas de 100 páginas, contendo 4 historias cada em média, com uma distribuição de historias e personagens diversos, visando atender uma variedade de gostos da forma mais acessível possível, dentro de um numero limitado de revistas mensais. Outra desvantagem: temos uma defasagem de um ano do que sai nos USA e em muitos casos o cara que lê o scan da revista quando sai lá não vai querer comprar um ano depois pra ler a edição nacional. É como pagar (caro) por comida requentada – ou regurgitada se a historia for ruim – é, eu sei… este exemplo ficou muito tosco mesmo.

Este texto já era para sair há algum tempo, mas teve um artigo recente sobre os scans e o mal que ele representa para moral e ética do brasileiro (a única coisa que eu acho engraçada, é esses artigos começarem à sair só agora que a Globo começou a pegar pesado contra a pirataria) que li em um site sobre quadrinhos, cinema, cultura pop, que visito freqüentemente, apesar de não me agradar sempre - e que me incentivou à escrever de vez isso aqui. Foi o fuel que eu tava precisando pra dar a arrancada neste texto, (na verdade, eu fiquei foi puto mesmo e se eu escrevesse isso nos comentários de lá, teria meu texto deletado e meu IP bloqueado, como já aconteceu antes) então eu vou pegar alguns pontos do artigo original: http://www.melhoresdomundo.net/arquivos/006605.php e discutir algumas coisinhas.



3.2 – Legalidade E Moralidade Na Terra Do "Jeitinho"

Legalidade: baixar scans é ilegal. Financiar campanhas de reeleição com dinheiro público também é. Prostituição infantil é ilegal. Mas ninguém dá jeito nisso. Não me vejo como um criminoso fazendo download do Booster Gold e Astonishing X-Men que acabou de sair na Gringolandia, mas quando ouço falar de exploração infantil ou de abuso de poder – são coisas que me deixam doente. Dá vontade de virar o Justiceiro e meter bala nessa cambada de filhos da puta. Mas isso também seria ilegal, dá cadeia. Então eu vou continuar apenas baixando meus gibis aqui na minha, antes que eu me complique mais.
Além do que, esta é uma questão muito vaga. Por exemplo, ao comprar um cd ou um dvd original, bonitinho com encarte, tudo nos rigores da lei, com notinha fiscal e tudo o que tem direito, lê-se algo do tipo nas letrinhas miúdas: “É proibida a reprodução, locação, execução pública e radiodifusão deste disco, estando sujeito as penalidades previstas por lei.” Então o que eu faço com um cd de 40 paus? Se é proibida a reprodução, então não posso ouvi-lo, gravá-lo pra ouvir num mp3 player se eu quiser. Não posso emprestar, porque é vetada também a locação. Se o CD for uma bosta e eu quiser vendê-lo, sem chance, porque não vou poder emitir nota fiscal. E o que se entende por “execução pública”? Onde tem mais de duas pessoas num mesmo recinto pode se dizer que é um ambiente público. Então, se EU comprei o tal CD, apenas EU posso ouvi-lo? Se eu rolar um sonzinho numa festa ou sair de carro (quando eu tiver algum) vou estar sujeito a encarar um xilindró de acordo com a “lei”? E se eu aumentar um pouco a mais o volume do meu rádio quando tiver ouvindo um Foo Fighters e o som vazar pra fora de casa, o meu vizinho pagodeiro pode chamar a policia para me aplicar as “penalidades previstas por lei”?
Então o que se faz com um cd original de 40 pilas, de acordo com a “lei”? Enfia no cu??
Baixar scans desrespeita os direitos dos autores? Marvel e DC ficam nos Estados Unidos, como qualquer idiota sabe, e os editores-chefes de ambas editoras concordam que o download ilegal de scans não os prejudicam, deixando claro a sua posição quanto à isso. E fã de Joe Quesada que sou, o que ta bom para ele ta bom para mim. Next?

Moralidade: é como bunda. Cada um que cuide da sua e não meta o dedo na dos outros, a não ser quando for convidado ou estiver pagando por isso – Ugh! Mais um chiste chulo e gratuito! Falar de moralidade é voltar ao tema acima e confundir com legalidade: se tivesse algum artigo na tal da Lei dos Direitos Autorais validando o download de scans ou mp3 ou qualquer coisa que seja, ou saísse alguma emenda ou portaria dizendo que à partir de tal data, é permitido baixar essas coisas, aí já seria “moralmente” permitido e poderíamos todos dormir o sono dos justos, porque estamos fazendo o que é certo? Então a “moral” é algo tão volúvel que é orientada pelo que é determinado pelo legislativo? Isso é o mesmo que dizer que sua “moral” é baseada no que tipos como Clodovil Hernandez, Frank Aguiar e Waldemar Costa Neto legislarem. E qual o problema nisso? São todos congressistas “éticos”, de moral inquestionável e honestíssimos… e o Peter Pan existe, se você pular do vigésimo andar do seu prédio você vai voar que nem ele – até o chão pelo menos. Quer tentar?
Somos 170 milhões de cabeças pensantes aqui neste País, (ou pelo menos deveriam ser) e são 170 milhoes de pessoas diferentes, de criações diferentes, ideologias diferentes e limites diferentes do que é certo ou errado. Eu sou a favor de aborto, pena de morte e contra pastores evangélicos que se utilizam da fé das pessoas para enriquecerem e construir seus templos faraônicos e bancar seus carros importados, já minha mãe não. Por aqui, pastor só anda de Audi, BMW… eu acho isso uma filhadaputice do caralho. Mas vai falar mal do pastor da igreja da Dona Lucia pra ela… Então eu ainda não encontrei um padrão universal de “moralidade” que eu pudesse seguir e dizer que é o absolutamente correto, enquanto isso, eu mesmo vou decidindo o que eu faço ou deixo de fazer e pra mim os meus padrões me servem melhor do que os do Renan Calheiros, Joaquim Roriz, Homero Jucá e essa corja toda.

3.2.1 - Pra Não Ser Injusto…

Vamos ver algumas finalidades perceptíveis na pratica dos scans, mas que os detratores fazem questão de não citar:


Divulgação das histórias – com a globalização e o crescimento do acesso à informação e à inclusão digital, é praticamente impossível manter o ar de suspense e excitação das décadas passadas. Hoje, principalmente nos quadrinhos, cinema, series de tv, se sabe o que vai acontecer antes mesmo de tal item ser lançado no seu país de origem. Então, quando sai um exemplar de tal revista, ela já vai ter sido falada antes de seu lançamento. Mas de inicio só terá acesso à ela quem mora nos states ou quem importá-la (boy!). Com os scans, quem quiser, vai ter disponível a versão digital e ler a mesma historia que se pagaria 6 reais por aqui, fora as taxas de importação. Se for ver pelo lado da historia per si, o numero de leitores em potencial sobe - e muito com os scans, então, eles ajudam a divulgar as historias sim.

Rentabilidade – scans em teoria não são feitos com fins comerciais. É mais uma questão de ego. Eu acho que o que interessa mais pro cara que escaneia, diagrama e traduz é o de ver o seu nome nos créditos numa revista digital que vai circular por toda a rede, nas telas dos PC´s de vários fãs assim como ele próprio. Mas eu não sou do meio, então eu posso estar errado…
Já a pirataria de modo geral, é “totalmente ilegal, alimenta a industria do crime, deixa de gerar inúmeros empregos, prejudica os comerciantes”… se quiser saber mais sobre este assunto é só colocar na Globo. Eles estão pegando a pirataria como o vilão nacional agora que resolveram dar uma folguinha pro Renan.

Gosto popular – como eu disse, o respeito de certas editoras por seus leitores as vezes chega a ser quase zero. Muita coisa é empurrada sem os leitores pedirem e o que a gente pede na maioria das vezes “não está nos planos em publicar tal coisa” por ser “inviável”. Desse modo, quem não tiver a fim de gastar uma fortuna com um monte de gibi importado, pode encontrar na net títulos que nunca foram e nem serão lançados por aquí ou revistas que foram publicadas há 20, 30 anos e que nunca mais foram reeditadas.
Do mesmo jeito que o gosto popular na minha opinião justifica os scans e a diversidade que ele oferece com a vantagem de ser gratuito e se você não gostar da historia, é só apagar do seu HD e não vai ter nenhum ônus por isso, (só o de ter que conviver com sua consciência de pecador, mas isso é historia pra outras bandas) Se justifica também o fato de o Linux, apesar de ser uma “opção gratuita e viável”, não ter se firmado, mesmo com esses computadores do governo e o Windows ser o sistema mais popular e utilizado até hoje. O Línux é gratuito, mas em todo lugar que você vai, o pessoal só sabe (quando sabe) mexer no Windows. As vezes só muda a interface gráfica de um sistema pro outro dependendo da versão de línux, mas pergunta pro mano ou pra vadia que vai na lan house orkutar se eles querem usar um PC com Línux. A resposta na maioria das vezes será: “Linux? Com que se come isso??” A fácil acessibilidade e divulgação do Windows tornou-o o sistema popular que ele é hoje. Além disso, mesmo que a maioria dos PC´s domésticos tenha Windows pirata, (excluindo alguns santarrões que não compram softwares piratas e nem baixam mp3) muitas empresas (nem todas) compram produtos originais pras suas máquinas, então o preju não é tão grande assim. A mesma coisa com o Playstation, o que a Sony perde em venda de jogos, ela ganha na de consoles. A Nintendo veio na época da geração 128 bits com o seu Game Cube e sua midiazinha anti-pirataria e o que aconteceu? Ela se fodeu! Assim como se fodeu quando insistiu em continuar com um console de cartucho quando a Sony tava enchendo o rabo de dinheiro com o Playstation 1. O que define se tal produto é bem sucedido ou não é o numero de pessoas que tem acesso à ele. Se para isso, tiver que caminhar paralelamente e compartilhar lucros com a pirataria, que seja. Pior que isso é o esquecimento e a indiferença. Indiferença é morte.
Quando uma Ivete Sangalo ou um Calypso botam 1 milhao, dois milhões de pessoas num show na Paulista ou no raio que o parta, é muita ingenuidade pensar que todo mundo que tá ali tem um cdzinho original desses artistas. E se fossem contar apenas os que o tem, não dariam nem 1% do total, pode acreditar. Esse negócio de que pirataria atrapalha artista é tudo coisa da Globo e das gravadoras. Num País onde que com 50 mil cópias o nego já vai receber disco de ouro no Gugu ou no Faustão, se ele for depender só de venda de disco, ele tá é fodido – e não é fodido como a Nintendo que é um mega conglomerado da industria dos vídeo-games, é fodido mesmo! De ter que tocar no trem ou em associação amigos do bairro para comprar… um quilinho de carne do Warren Ellis.

4 - Pra liquidar enquanto ainda tô ganhando (ou pelo menos, enquanto penso que tô):

Falar de “moral” e “ética” é uma coisa complicada. Não que eu seja totalmente “amoral” e “corrupto” na definição ortodoxa da palavra, mas sim porque eu não acredito nesses arquétipos maniqueístas de “bem” e “mal”… o “certo absoluto” e o “errado absoluto”. O mesmo cara que é um explorador de criancinhas pode ser o cara que se joga na frente de um tiro pra salvar alguém de sua família… sei lá.
Mas seja como for, é mesmo complicado falar de certos assuntos. Comecei este texto com a idéia de falar sobre a “industria” dos scans, passar brevemente pela pirataria, e dissertar um pouquinho sobre a prática de encontrar um bode expiatório toda vez que uma sacanagem se torna conhecida pelo público. No final, acabou virando um texto de 10 páginas que eu tive que dividir em três partes, porque é impraticável lê-lo de uma vez só num blog de internet, onde a idéia é justamente a contrária – a de textos resumidos, diretos e objetivos. E nem sequer passava pela minha cabeça de acrescentar os comentários do artigo do Melhores do Mundo – até mesmo porque eu ainda não o tinha lido quando pensei em escrever isto aqui – e no final, acabou incrementando mais a idéia original e me colocando à pensar mais a respeito do assunto que estava escrevendo.

Sobre os scans e a pirataria: é totalmente compreensível a posição das empresas quanto a terem seus produtos falsificados e seus lucros desviados pra outras pessoas. Mas pelo outro lado, é absurdo cobrar 70 reais num dvd ou num gibi, numa peça de teatro ou pagar 300 mangos num Plasma original com a situação econômica do País que mesmo que esteja menos pior (e esse é o termo certo) do que há alguns anos atrás, ainda é inacessível para a maioria das pessoas. Se as editoras, gravadoras, fabricantes e a classe artística em geral acompanhassem a situação econômica, o papel que a Internet desempenha na sociedade atual e trabalhasse numa forma de passar um valor justo ao público, a pirataria não teria a força que tem hoje. No final, a culpa é deles mesmos, por pensarem apenas em meter as garras no que acham que é seu direito e se esqueceram que aqui é a terra do “jeitinho” e agora choram em rede nacional pra tentar sair do prejuízo. Agora já foi, baby, e o negócio é rebolar pra viver e… não sair do negócio. Enquanto isso, a 25 de Março vai continuar lotada de camelôs vendendo a “mesma” camiseta do Timão por 20 contos que na Loucos e Doentes do shopping vai custar 150 paus. E o mesmo com os tênis baciados, Windows pirata e Spy Glasses. Ah sim, os malditos, imorais e pérfidos scans vão continuar infectando os computadores da galera pelo mundo todo, seja em inglês, espanhol ou em português mesmo. O importante é enriquecer a leitura, e com a barriga cheia de carne de preferência.

Quero deixar bem claro aqui, que nunca é minha intenção ao escrever qualquer texto de ser vago, superficial e evasivo, nem de ofender ninguém, (as vezes a intenção é totalmente essa sim, mas não hoje) apenas quero utilizar um espaço que eu abri pra de vez em quando escrever algumas coisas que me vem à cabeça e que pra muita gente não deve valer nada, nothing, nyet, zipardonio, zilch – que é o mesmo que vale a “moral” e “ética” de muita gente por ai pra mim.

Saca só essa: se quiser ler na integra o discurso do Warren Ellis do tal do quilo de carne, aqui tá o link pra baixar a edição numero 1 de Fell, onde tem o texto completo do cara:http://www.4shared.com/file/27268076/7766f430/Fell01HQBR20NOV05OsImpossveisBRGibiHQ.html
Pra continuar no clima, segue também uma musiquinha ao vivo e rara do Metállica: http://www.4shared.com/file/27268539/857eee4e/Metallica-One_1121050229.html– que foi contra o Napster na época do boom do mp3 em 99, que foi quando se iniciou o loooooooooongo debate sobre pirataria de músicas na rede que dura até hoje. Espero que o Lars Ulrich não me processe por essa.













quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Grandes Problemas Brasileiros: O Galvão Bueno




É isso ai… goleada da seleção de 5X0 no Equador ontem a noite, pelo menos uns 3 gols sem querer, (o primeiro do Wagner Love, o do Ronaldinho dentuço e aquele ultimo do Kaká) a festa da torcida no Maracanã lotado, com a presença da celebridade global em peso nos camarotes Vip´s… o queridíssimo Luciano Huck – o assaltado do mês, aquele que com toda “propriedade” que a indignação de ter sido uma vítima da absuuuuurda violência das ruas de São Paulo lhe cabe, disse que caso levasse as balas na cabeça, deixaria “Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio”… caramba, quem esse correria pensa que é, para assaltar O Luciano Huck? Mas enfim, voltando ao futiba, foi uma noite especialíssima – pelo menos para o nosso queridão Galvão que deve ter tido um orgasmo à cada gol acidental do jogo de ontem. Mas… é isso aí… com vocês, o narrador-torcedor mais amado / odiado do Brasil: O Galvão Bueno, velho batuta e graaaaaaaande figuraça. Daqueles que a gente adora odiar (por isso o subtítulo “It´s cool to hate”). Quem é que nunca ouviu falar, quem é que nunca ouviu dizer e digo de novo – quem é que nunca ouviu falar do Galvão Bueno do Plim-Plim? Quem é que já não ouviu a famosa frase: “Bem, amigos da Rede Globo…”? Ou essa então: “Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrronaldiiiiiiiiinhooooooooooooooooooo(cof, cof)ooooooooooooooo(sigh)ooooooooooooooooooooooooooo(urgh)oooooooooooooooooooooooooooo!!!!!” Deixa que eu mesmo respondo: o Brasil inteiro, porrrrra!


Não vou ficar aquí desperdiçando meu tempo e o de quem ta lendo isto dissertando sobre a influência e a manipulação que a TV Globo exerce sobre a massa (o povão, eu digo. Não massa de bolo ou o Carlos Massa, o Ratinho, que fique bem claro) no País, mas se você quiser conferir uma ótima análise sobre este assunto vai aqui uma dica: procure no Google (this is not a jabá) o documentário “Além do Cidadão Kane”, que é uma visão critica totalmente fundamentada do poder que a Globo, um gigante conglomerado das comunicações pode mover e como ela afeta diretamente a vida das pessoas em todos os meios: político, social, econômico, educacional. Afinal…
“Conhecimento é poder.” – Francis Bacon
“Informação é poder.”
“Poder é poder.”

As duas ultimas citações acima são do grande Dwight Schrute, da espetacular e hilária série de TV “The Office”. Muito boa. Recomendo.

Maaaaaaaaaaaaaaas voltando ao Mestre Galvão… bem, eu já vi muita gente polêmica e controversa, tanto no cotidiano, quanto na mídia e na política (espere aparecer por aqui em breve algo do tipo: “Decifrando Maluf”), mas nenhuma delas (pelo menos pra mim) consegue chegar perto do Maior Torcedor da televisão Brasileira.

Galvão Bueno, o imortal narrador-comentarista-torcedor que é parte integrante do
riquíssimo folclore nacional ao lado de outros ícones – e também imortais Silvio Santos, Dercy, Hebe Camargo, Malufão e por ai vai … - é um cara que desperta como ninguém o lado passional das pessoas. Principalmente daqueles que acompanham os jogos que ele narra (e torce). Uma coisa obvia em suas transmissões é o seu jeito único de narrar e deixar claro pra qualquer pateta qual time ele está torcendo naquela ocasião. Mas apesar disso, uma questão que nunca foi respondida é pra qual time que realmente pertence o coraçãozinho do “queridíssimo”Galvão. Algumas pessoas tem suas teorias.

Aqui em São Paulo todo mundo diz que ele é Corintiano. Os corintianos já dizem que ele é palmeirense. Uma desmente a outra, mas uma coisa todas tem em comum: ninguém quer ter o Urubuzao-Bueno (ai vai uma suspeita subliminar de minha parte, mas enfim…) ao seu lado na arquibancada num jogo do seu time. E se for numa final de campeonato então, que ele nem esteja no mesmo Estado de preferência. Vai ver essa má reputação procede de seu extenso e vergonhoso currículo:
Galvão Bueno
1982 - 2007

1982 – eliminação do Brasil de Telê Santana da Copa do Mundo pela Itália
1986 – Brasil dança mais uma vez – e a Argentina fatura o título!
1990 - fracasso da seleção do Lazzaroni
1994 – morte de Ayrton Senna
1994 – São Paulo perde a final da Libertadores nos penaltis pro Vélez Sarsfield do grande goleiro Chilavert em pleno Morumbi lotado (eu estava lá)
1995 – atual – Rubinho (aposta incondicional de Galvão) nunca saiu da mediocridade
1996 – Avião dos Mamonas Assassinas cai na Serra da Mantiqueira - eu sei… isso possivelmente não deve ser culpa dele (mas eu disse “possivelmente”), mas é só pra enriquecer (mais ainda) a fama de pé-frio do Galvão
1996 – Nigéria derrota o Brasil na final das Olimpíadas – único titulo internacional que o nosso futebol jamais conquistou
1998 - Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrroooooooooooooooooonaldiiiiiiiiiiiiiiiiiiinhooooooooo(gurc!) ooooooooooooooooooooooo passa mal na final da Copa e o Brasil perde de 3X0 pros franceses.
De 2000 pra cá – O pequeno gigante São Caetano (minha terra). perde todas as finais que disputou – e agora foi rebaixado pra segunda divisão do Brasileirao.
2001 – atentado terrorista destrói as torres gêmeas do WTC, deixando inúmeros mortos e feridos (seria Galvão um terrorista?)
2006 – França elimina Brasil da Copa mais uma vez
2007 – Boca Juniors enfia um chocolate no Grêmio e vence a Libertadores
2007 – Sai na porrada com um diretor de jornalismo da Globo (boniiiiiito…)

E isso só nos últimos 25 anos.

Agora uma coisa engraçada: mesmo quando não rola monopólio da Globo e os conchavos do Plim-Plim com a CBF – os famosos contratos de exclusividade - e tem jogos que são transmitidos por outras emissoras, a rede do sr. Roberto Marinho (in memmorian) consegue ficar com a grande maioria do público. Quero dizer… por mais tosco e criticado que seja, o Galvão consegue trazer pro seu lado a maioria do povão.

E não é só no futebol que o Galvão Bueno dá as caras não. Onde tiver algum evento esportivo importante, lá estará ele. Com suas sacadas espetaculares e contundentes (cala a boca Magdo!), justificando todo o status que ele adquiriu em seus lendários anos e anos de carreira (não me interpretem mal). Até nos games de futebol do Playstation ele imortalizou sua prestigiada voz – e o pior é que a molecada adora!

Reconheço com um pouco de vergonha, que por mais que eu tenha motivos de não gostar da rede Globo e bla bla bla, simplesmente não tenho saco de assistir jogos de futebol em outro canal). Acabo sendo mais um “amigo da Rede Globo” por opção e juro “pelo amor dos meus filhinhos" (que ainda terei um dia… pelo menos uns sete) que não sei explicar por quê.

Será que além de um péssimo narrador, Galvão também exerce sob os telespectadores algum tipo de controle hipnótico? Qual será seu segredo? Como ele consegue mesmerizar as pessoas fazendo-as aturar suas horríveis narrações mesmo sabendo o quão toscas elas são?

Será que Galvão Bueno é um mutante? Eles estão em voga no momento… nuns gibis da Marvel por mês, três filmes, desenhos e seriados, novela na rede do Bispo… até o Nazi do IRA! Lançou um CD com o titulo de Wolverine Blues!

Se prestar atenção nas transmissões da Globo, em todos os jogos, sempre vai aparecer algum patético Zé-ninguém querendo aparecer na “telinha” com um cartaz com dizeres do tipo: “Alô Galvão”, “Eu te amo Galvão”, “Galvão, é nóis aqui na Globo”, “Galvão, estou grávida”, “Galvão, quero dar o c* pra você”… com certeza isso é algo pra se indagar. Como um cara tão publicamente odiado e execrado pode ser também idolatrado em rede nacional pelas mesmas pessoas que dizem não o suportar? Esse é um paradoxo tão indigestamente complexo que nem Freud explica (ou explicaria).

Fora alguns outros fatores externos facilmente identificáveis. Claro que o Galvão é um tipo peculiar e estranhamente exótico (à sua maneira), mas também não podemos esquecer de seus “parceiros de crime”… tão mequetrefes quanto ele:


Falcão - ex-jogador e ex-técnico da seleção, fato freqüentemente enaltecido por Galvão (ele só esquece de dizer que Falcão nunca ganhou nenhum título em ambas as funções)
Arnaldo César “A regra é clara!” Coelho – apitou a final da copa de 82 (bem, isso é de se reconhecer que tem seu mérito…). Também tomou um gancho de 3 meses da Globo em 2000, por desfilar em uma escola de samba no Rio sem autorização (como ousa??).
Casagrande – procure pela comunidade do Orkut – O Casagrande só fala merda. Lá tem material ultrajante de sobra, alem de links para outras comunidades que também esculacham o tipo*.

Esses são os seus comparsas mais freqüentes, mas em certas ocasiões especiais Galvão recebe convidados do naipe de Romááááááááááário (1000 gols!), Ronaldão que já jogou no São Paulo, Flamengo e na seleção de 94 e que hoje é pastor evangélico, (o atleta do século, rei do futebol, ex-ministro extraordinário dos esportes, ex-Xuxa e fala-merda de todas as horas) Edson Arantes do Nascimento, o genial – e genioso Pelé e vários outros.

Outra coisa estranha alem de seu cabelinho penteado sempre para trás (por que será?), seus terninhos sempre ostentando orgulhosamente o emblema da emissora que lhe paga o pãozinho de cada dia, do seu enorme nariz de tucano e a façanha de não morrer engasgado com sua enorme língua é o fato de o figura só aparecer da cintura pra cima. Será que sua reputação de pé-frio-filha-da-puta é verdadeira e Galvão pertence a alguma espécie bizarra de seres que tem os dois pés enfiados em gigantescos blocos de gelo maiores do que o iceberg que afundou o Titanic?

Vale frisar também a sua predileção (um tanto improvável) por artistas baianos pra embalar as campanhas da seleção em Copas do Mundo. Com a gostosa da Ivete Sangalo (quando é que ela vai posar para Playboy?) deu certo em 2002, já com o Olodum em 2006 nao. O que virá por ai em 2010… Carlinhos Brown? Terrasamba? Caetano Veloso? Gasp!

Como já foi dito acima, o cara era o maior fã do Ayrton Senna e vejam só no que deu. Depois foi o Rubinho Pé-de-chinelo que Galvão profetizou que seria o novo Senna – e que nunca foi para frente (got it?). E o Rrrrrrrrrrrrrrronaldiiiiiiiiiii(acho que vou enfartar!)oooooooooo-ooooooooooooo-ooooooo “Fenômeno”? Será que teriam acontecido tantas zicas com o cara (joelho bichado, esfiha estragada na final da Copa de 98, obesidade, aquele ridículo corte de cabelo, Cicarelli…?) se o Galvãozão não o tivesse pegado pra babar ovo e idolatrá-lo como o mito (o novo Pelé) que ele nunca foi (e será)?

Concluindo: Galvão Bueno pode ser muitas coisas pra voce: (um péssimo) narrador, torcedor, comentarista, corinthiano, palmeirense, - menos são Paulino!!! Sai pra lá Urubuzão!!! - filho-da-puta mor, objeto de desejo (afinal tem gente que gostaria de dar o r*** para ele, se duvida preste atenção nos cartazes quando for ao estádio ou mesmo pela tv.), mas uma coisa é certa: vamos ter que aturá-lo por muuuuuuuuuuuito tempo. Ainda mais se ele realmente pertencer à (já citada anteriormente) estirpe dos Illuminatti brasileiros, proféticos imortais detentores da água da vida. Se assim for, prepare-se pra se ver velhinho(a), daqui à 50 anos, sem dentes e num asilo, junto com mais uma cambada de contemporâneos, tão ou mais senis que você (Nossa! Que visão mais nilista!), na frente de uma holo-tv sintonizada no Plim-Plim – que a essa altura já terá dominado o mundo e as galáxias - vibrando ao som da voz do Mestre mais uma vez: “Goooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooool!!!!! É!!! É do Brasiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiil!!!!”

Brasil-sil-sil-sil-sil-sil...


*Eu ia terminar esta frase com “o mesmo”, mas ai ficaria muito com cara de boletim de ocorrência.

Saca só essa: Galvão Bueno é sinônimo de futebol e vice-versa. Então o sonzinho de hoje tem que ter a ver com um bom futiba. Como eu odeio aquela música do Skank “Uma Partida de Futebol”, vou mandar essa porrada do Flicts – Lá se vai o campeonato -
http://www.4shared.com/file/26824046/e4f19659/flicts06.html que é muito foda e que tem um refrão no final que é (pra mim) também uma homenagem ao velho Galvão, o maior narrador da tv brasileira.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Grandes Personagens Brasileiros: O Capitão Nascimento




Cineasta brasileiro quando não cisma de fazer filme “cabeça” pra tentar ganhar o Oscar (só tentar mesmo, porquê ganhar…), até que faz alguma coisa boa de vez em quando. Principalmente quando se utiliza de alguns “recursos básicos” utilizados em quase 100% dos filmes vindos dessa retomada do cinema nacional que data de 97 para cá: violência, palavrões à rodo, mundo cão, e a chamada “realidade nua e crua”. A fórmula de fazer um blockbuster nacional é basicamente essa. Não é nenhum segredo como… sei lá… a formula da Coca Cola. E dentro desse padrões, Tropa de Elite é um filme espetacular! Tão bom ou até melhor quanto Cidade de Deus, que foi um dos precursores dessa nova onda de filmes brasileiros com uma proposta mais “in your face”, que consegue chocar e revoltar o público de pensamento mais reacionário e patriarcal (idiotas…) e fazer um monte de pentelho sair do cinema querendo ser um bandidão sangue-ruim – ou neste caso, um policial sangue-ruim e o pior… soltando uma frase do filme à cada 5 minutos.

Mas então Tropa de Elite é um filme bom? É sim, muito bom, considerando que apesar do ponto de vista “inovador” de mostrar o outro lado – o filme trata da violência do tráfico nos morros cariocas sob a ótica da polícia sem poupar criticas para todos os lados: policiais corruptos, traficantes, exploração infantil, burguesia carioca universitária, o “sistema”… nem Sua Santidade escapou de umas (merecidas) farpas – ainda assim segue a formula do mais do mesmo vista em outros bons filmes recentes como Carandiru, O Homem Do Ano, O Invasor e o próprio Cidade De Deus.

E o que faz Tropa de Elite se destacar desses outros filmes? Cada um vai ter a sua opinião e isso é que é o grande barato. Quando uma obra consegue passar diferentes significados e conclusões pra diferentes tipos de pessoas é o que faz ela (pra mim) valer a pena. Pra alguns (talvez a maioria) o efeito maior que tenha ficado seja mesmo da violência (tortura por asfixia, mauricinho queimado vivo…), escatologia (parte do treinamento no BOPE, cena do cabo de vassoura…), corrupção policial… são muitas as impressões e muitos os sabores. Na minha cabeça a primeira coisa que me vem à cabeça são as fenomenais frases de efeito. E Tropa De Elite tem várias delas. Mas pelamor… deixo bem claro aqui que não pertenço àquela corja de nerds punheteiros que quando escutam um “Faca na caveira e nada na carteira” batem umazinha no meio do cinema ou começam a sair feito retardados soltando essas pérolas em todo lugar: na escola, no trabalho, na igreja, na galeria Pajé… mas que é engraçado ouvir o Wagner Moura pagando uma de Frank Castle - o justiceiro: “O símbolo do BOPE deixa claro o que acontece quando a gente entra na favela. E a nossa farda não é azul… é preta.” Ou essa: (…) “eu já tava naquela guerra faz tempo, e tava começando à ficar cansado dela.” Quem o assistia até a um mês atrás na novela do Plim-Plim Paraíso Tropical como o merdinha Olavo e ia imaginar ver o cara – totalmente casca grossa, “cheio de marra” mandando uma dessas? São dois extremos – o típico estereótipo do vilãozinho barato de novela das oito e do outro lado o policial cachorro louco, cheio de frases marcantes no estilão Frank Miller (Cavaleiro Das Trevas, Sin City, 300). Por falar nisso, o filme tem muito da linguagem dos quadrinhos, como a forma de narrativa, como ele é contado pelo personagem, lembrando os recordatórios, aquelas legendas com o pensamento do personagem complementando o passar da historia, personagens “heróicos”, momentos impactantes… será que o Brasil agora – e finalmente - se deu conta da tendência atual das superproduções Hollywoodianas e resolveu oferecer sua versão? Se for, ficou muito bom de início e quem sabe um dia teremos um Máquina Mortífera tupiniquim, com perseguições de Variants e Chevettes no Capão Redondo ou um Stallone Cobra da Paraíba? Vamos ver… vamos ver…

Seja como for, foi um grande acerto a escolha de Wagner Moura como o carismático – do seu jeito – Capitão Nascimento. Ele provou ser um grande ator, ficando totalmente à vontade durante todo o filme e o mais importante – convincente e competente, colocando o 01 como um dos (raros) grandes personagens do cinema nacional ao lado do também “grande” Zé Pequeno, com a diferença que o Bandidão de Cidade de Deus de única boa arma tinha a clássica: “Dadinho é o caralho! Meu nome é Zé Pequeno, porra!” e o Capitão Nascimento tem um (trocadilho infame coming…) arsenal delas:
“Senta o dedo nessa porra!”… “A guerra sempre cobra seu preço. E quando o preço fica alto demais, é a hora de
Pular fora.”… “Não vai subir ninguém!!”… “é um fanfarrão.”… “O senhor é um merda.” “Bota na conta do papa”… “07! Pega a sementinha do mal!”… “Vai virar chiclete de caveira.”
… e a minha preferida, durante o treinamento dos recrutas: “Nunca serão.”e mais uma porrada delas, fora que cada “Seu viado!!!” ou um “É tú mesmo seu filha da puta!!!” tinha mais efeito do que um chute nos bagos. E é isso que faz o Nascimento se destacar de todos os outros personagens do filme. É um personagem que alem da superficial truculência, é 100% humano, tem problemas com a mulher que desaprova seu trabalho, a preocupação da chegada de um filho tendo uma profissão tão arriscada, o que acarreta num stress que compromete sua saúde e o seu desempenho no trabalho, é um policial (ao contrário de muitos, mas não todos que fique bem claro) que tenta fazer o certo, questiona seus superiores mesmo numa disciplina rígida como a mostrada da corporação do BOPE e que do seu jeito tenta fazer o seu trabalho da melhor forma possível, mesmo reconhecendo que em algumas situações se utiliza do método errado – mas que as vezes pode ser o único possível, numa guerra que é impossível de ser vencida por um punhado de homens bem-intencionados e bem-armados mesmo lutando com todas suas forças e que não é apenas contra o tráfico per si, mas contra todo o “sistema” da má vontade – “
Eu posso até te ajudar. Aliás, eu vou te ajudar. Eu quero te ajudar. Mas você tem que me ajudar… à te ajudar.”

De resto, de novo o velho mais do mesmo: PM´s corruptos, envolvidos com tráfico, prostituição… playboyzada fútil e viciada, policiais idealistas, esposa preocupada… não compensa ficar falando de um por um deles, mas vale destacar a pedrada - totalmente merecida – nos universitários filhinhos de papai e drogadinhos. Tudo ali é verdadeiro desde a boçalidade, superficialidade da maioria, as festinhas regadas á drogas, promiscuidade, a ignorância das pessoas que se deixam influenciar e “formam” sua opinião se apoiando em “jornalzinho e televisão”, o reacionarismo e a hipocrisia de alguns “ativistas” que no fundo pouco se importam com os “desfavorecidos” que dizem ajudar, Ong´s sem propósito nenhum e marchinhas baratas contra a violência. Mesmo não tendo gostado do policial Matias como personagem (muito frio e robótico na maior parte do tempo), reconheço que ele serviu como um excelente recurso de mostrar, comentar, e criticar tudo isso de uma forma bem… decente. A maior parte do “mundo real” que foi visto nesse filme foi pela ótica dele e na minha opinião foi feito muito bem, com um recado para a sociedade burguesa que precisa de um tapa na cara pra tirar seu sorrisinho irônico e olhar superior ao resto do mundo. Se bem que falando sério, a critica só é valida ao propósito de validar o conceito do próprio filme, pois acredito que não é possível dar credito total no quesito “critica” pra um filme com esse tema, afinal onde já se viu diretor de cinema “despossuído” ou “bestializado”? Então mais uma vez, não se deve adotar este e qualquer filme como postura de comportamento e filosofia de vida, mesmo que este abra a sua percepção para novos mundos, novos problemas, novos pontos de vista que não passavam pela sua mente, seja onde você more, se num apartamentinho na baixada ou em alguma biboca na perifa, no fim esta aqui é a “terra do jeitinho” onde “quem quer rir, tem que fazer rir” e tudo vem do e volta ao “Sistema”.

Pra fechar: não sou muito fã de Cinema Nacional por um monte de motivos que não vale a pena falar deles agora, mas vez ou outra passa pela peneira umas coisas muito boas e o Tropa De Elite com certeza faz parte desse “seleto” grupo. À esta altura você já deve ter assistido ou pelo menos já estar ciente de qual que é a “pegada” do filme, devido à super exposição que ele tá tendo na mídia e o seu próprio marketing que resolveu correr atrás de tentar recuperar o “prejuízo” sofrido por causa da pirataria, que - queiram ou não – ajudou a alçar mais para cima a divulgação do filme – por mais que a Globo tente dizer o contrário. Tem o diferencial de ser talvez a produção nacional que mais se aproxima estruturalmente do que é feito lá fora – já sabendo que tudo que vem lá da Gringolândia não é uma maravilha, ao contrário do que muito pseudo-critico intelectualóide acha - o que neste caso é positivo. É um filme sincero, descompromissado, sem pretensão de ser uma obra-prima, tanto é que não foi selecionado pra concorrer ao Oscar - o que as vezes é melhor, pois parece que quando o objetivo é esse, no final acaba se tornando um desserviço para o próprio filme e para a maioria do público, vide alguns (insípidos e sacais) indicados Central Do Brasil e o de agora O Ano Que Meus Pais Saíram de Ferias, ambos arrastados e insossos. Assim Tropa De Elite consegue ser divertido, engraçado, bem dirigido (só achei que podia ter sido contado totalmente de forma linear, sem aquela introdução, repetindo os acontecimentos quase da mesma maneira duas vezes) tem um roteiro bem desenvolvido, tem palavrões pra caralho e o melhor personagem (e herói nacional) de todos os tempos da ultima semana: o brutalmente sincero Capitão Nascimento, que bem que podia existir de verdade e fazer uma visitinha para Vossas Excelências em Brasília, aqueles “fanfarrões”, sentar o dedo naqueles porras e assumir de Presidente. Aposto que não ia ter tanto senador, deputado, vereador, prefeito, ministro, magistrado fazendo tanta merda por ai.
Até sugiro um slogan pra campanha:
“Você acha que os políticos brasileiros são uns puta duns safados? Então…caveira neles!”

Saca só essa: Pra seguir no mesmo ritmo, ao invés da versão original dos Titãs, vai aqui o Sepultura tocando Polícia ao vivo, com o Max Cavallera nos vocais. É como sempre, só sentar o dedo no link e baixar.


E se você ta a fim de mais porrada e humor chulo, nunca é demais e não custa também baixar o primeiro gibi do Houg que eu mesmo fiz:
http://www.4shared.com/file/25622958/3b0a95a1/HOUG.html e antes que eu me esqueça... fui eu mesmo que fiz, então não é pirataria, certo, Globo?.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Houg Comics nº 01: Houg – O Jornaleiro


1995. 12 anos atrás. Eu tinha 13 anos, 6ª série (repeti a quinta… fazer o que… foi culpa da greve de 93), minha vida tava uma merda, meu time não tava muito bom das pernas já há algum tempo (e acredite… pra um moleque de 13 anos vidrado em futebol, isso importa muito), não tava pegando mulher nenhuma (aos 13 isso também incomoda e a tendência é piorar), o Real tava em alta, Malhação, Green Day, Offspring, Alanis e Oasis nas paradas, FHC presidente, Playstation desbancando a supremacía do Super NES, Age of Apocalipse nos gibis gringos dos X-Men, Saga do Clone, Cavaleiros do Zodíaco bombando na tv… Esse era mais ou menos o espectro que dava para se ter naquela época, se você fosse um moleque de 13 anos, mas sem ser alienado – ou pelo menos tentando não ser tanto.
Pois bem, o ano era 1995 e realmente não foi dos melhores – até teve seus momentos,mas não chegou a ser nada épico (e quando foi?), mas mesmo assim, marcante. Na TV, começava uma enxurrada de desenhos que mais tarde se tornaria uma tendência estável até hoje: os desenhos japoneses. Hoje é comum você chegar em uma banca e encontrar um porrilhão de mangas de todos os estilos, mas há 10, 12 anos atrás a coisa era diferente. O mercado de quadrinhos no Brasil se restringia apenas ao material Marvel/DC publicado (porcamente) pela Abril e revistas infantis - Disney e Turma da Mônica - e revistas informativas (Herói, Heróis do Futuro) que eram a única fonte de informação para os fãs de mangá e anime, mas que na sua maioria não passavam da segunda edição.
“P**** bicho… já foram dois parágrafos, meu… o que isso tudo tem a ver com esse tal de Houg – O Jornaleiro que ta escrito ai em cima?” - Tem tudo a ver eu digo, mas eu ainda vou chegar lá, espere eu terminar de preparar o terreno… falta pouco, ô simpatia (Brian Michael Bendis Verbose Mode ON). Mas voltando à 95, do nada iniciou um BOOM de popularidade nunca antes registrado de desenhos japoneses por aqui, começando bem modestamente com um desenho meio tosco (Nerdaiada e otakus sôfregos… por favor, please… não me amaldiçoem) de 5 marmanjos que em vez de arrumar um emprego ou uma namorada, passavam suas vidas esmurrando uns aos outros, lutando pela justiça e pelo amor (pelamor…). Ah sim, tinha também a Deusa Athena - será que era por isso que eles não ligavam de trabalhar e arranjar uma parceira pra acasalar com freqüência? Huuum…(mais uma vez, nerds indóceis, perdoem-me pela insolência). Bem, independente de sempre imaginar por que de esses caras não terem vida própria e como eles faziam para se sustentar, era bem legal assistir as aventuras de “Seiya e os outros”, como era repetido exaustivamente.
O tal anime que eu tô falando você já deve ter sacado que é Os Cavaleiros do Zodíaco, o qual eu assistia religiosamente todos os dias às 18:30/19:00 na antiga Rede Manchete – e até mesmo as reprises . E depois dele veio vários outros pra cimentar de vez o estilo do anime aqui no Brasil: Samurai Warriors, Sailor Moon, Shurato, Yu Yu Hakusho pela própria Manchete, Dragon Ball, Fly (não me lembro do nome do desenho, só sei que o moleque se chamava Fly e que era uma cópia do Goku), Reiyarth do SBT, depois Pokémon (Pika pika, pikachu!!! Picachu!! Pika pika, chu, chu! Pika Chu Pikachu, chu, chu, chu, chu!!! *) na Record, Dragon Ball Z na Band e até o Plim-Plim – mesmo que tardiamente – percebeu que o anime não era uma onda passageira e começou a exibir (com muitos cortes) em seu horário infantil alguns animes como Samurai X, Digimon e outros. Então se você não é adepto da cultura de ler quadrinhos com personagens de olhos esbugalhados em preto em branco, de sentido invertido e se incomoda de ver o crescimento cada vez maior do espaço que o mangá ocupa no mercado, já sabe à quem culpar: Seiya e os outros.
Mas trocando de pato pra ganso e continuando na mesma: em 95 o que dominava a cena era realmente o Seiya e os outros, mas também tinham outras boas opções na tv aberta pra quem não era viciado em Cavaleiros do Zodíaco. Os Simpsons continuavam firmes e fortes, na antiga Tv Colosso passavam uns desenhos bem legais como Eek the Cat, X-Men, Chipmunks (brincadeirinha…), no canal do Homem-Sorriso, os eternos Pica Pau, Tom e Jerry, Papa-Léguas… tinha muita coisa boa. E na TV Cultura, tirando aqueles desenhos holandeses, suecos, neozelandeses e tchecoslovacos que passavam no Glub-Glub (alguém ainda se lembra disso?), as duas únicas coisas boas que eles tinham lá eram As Aventuras de Tintim e o Doug – agora sim… estamos quase lá.
Produzido pela rede americana Nickelodeon, Doug era um desenho que passava na TV Cultura de sábado à noite, eu acho e era bem legalzinho. Era muito bacana assistir um desenho onde o personagem principal tinha a mesma idade que você, tinha os mesmos problemas que um garoto da sua idade tem - irmãos mais velhos, escola, paixonites não correspondidas, pentelhos enchendo o saco (em sentido figurado – e literal também, apesar de o desenho não apresentar isso explicitamente, devido à sua faixa etária ). É muito fácil quando se tem 12, 13 anos se identificar com o Doug Funnie ou encontrar um amigo boboca como o Skeeter, um escroto tipo o Roger ou uma gostosa que te deixa doidão (Patty Maionese). Era um desenho infantil bem verossímil em relação do que ele se tratava – a vida de um garoto de 12 anos – menos a parte de encontrar pessoas verdes, roxas tão facilmente por aí... Eu mesmo naquela época tinha muito em comum com o velho Doug Funnie: curtia rock, quadrinhos, desenhava… enfim, apesar de não conhecer nenhum sujeito verde, azul ou lilás. Mesmo assim garantia uma grande identificação com seus fãs, tal como os antigos gibis do Homem-Aranha em inicio de carreira nos anos 60, na fase Lee/Ditko.
Mas era 95 e pra mim não foi realmente um ano legal. Mas foi quando eu comecei à me dedicar mais a desenhar e comecei a criar umas HQ´s toscas, de principio esculachando com o que estava rolando no momento, bem no estilão MAD, só que MAIS tosco – se é que isso é possível (no bom sentido… eu sou fã da MAD, juro). Acho que por 95 não ter sido mesmo um ano legal para mim, que eu comecei desde àquela época à desenvolver um humor negro, ácido que as vezes (até eu mesmo percebo) chega à ser exagerado e inconveniente em alguns momentos e muito ofensivo pra alguns. Foi dai que surgiram muitos personagens escrachados e bizarros que eu mantive por muito tempo fazendo historinhas mequetrefes acompanhados de rabiscos as vezes indecifráveis (menos para mim, que via sempre tudo super definido).
Houg foi o primeiro dessa onda que foi surgindo dos confins mais profundos de minha imaginação depravada. Ele veio de uma idéia que eu tive depois de assistir um episodio dos Simpsons e finalmente perceber depois de uns 5 anos que Comichão e Coçadinha eram uma versão hardcore de Tom e Jerry – “Taí, vou fazer uma versão hardcore do Doug” – aí o nome já veio na hora. Ou melhor, os nomes: Houg Fancy (Doug Funnie), Toucinho (Costelinha, o cachorro), Scroter Valentino (Skeeter Valentine), Putty Catchup (Patty Maionese), Boger Kalotz (Roger Klotz)… todos versões super zoadas dos personagens do desenho. Sempre em historias bizarras, mal desenhadas, diálogos chulos, com personagens escrotíssimos, situações escatológicas, imorais e nada infantis. E com o velho Houg se f***endo em todas elas – literalmente.
Depois disso, vieram mais de 500 personagens, alguns próprios, outros sátiras de personagens conhecidos como os Pau Nos Rangers, Hougo e Caloteiros do Ridículo e a maioria baseada no mundo real, nas pessoas que eu conhecia, não escapando nem parentes – acredito que o verdadeiro humor é o humor cotidiano, da vida real, onde uma situação embaraçosa ocorrida ou presenciada pode ser 1000 vezes mais engraçada que os Zorras Total e Praça é Nossas da vida. E mexendo nas velharias, eu encontrei essas historias que estavam perdidas entre traças e a poeira do tempo (essa foi digna de um Neil Gaiman…não foi? OK… menos, menos…) e resolvi que algumas delas mereciam uma recauchutagem pra ver se resistiam ao teste do tempo. Como escanear era impossível pelo estado dos desenhos e pela (falta de) qualidade dos próprios, o que eu fiz foi manter o conteúdo (duvidoso) original e redesenha-las (toscamente) no Photoshop mesmo e dar uma arrumadinha ou outra nos diálogos e lançar por ai só por esporte. São historias que já tem mais de 10 anos, então já é de se esperar que não sejam clássicos da nona arte e nem que vão concorrer à um Eisner ou um Eagle Awards, mas que pelo menos já valham uma risada ou outra. Isso eu já acho que dá pra conseguir.
Então, esporadicamente vai pipocar por aqui alguma historia neste naipe, de alguma coisa daquela época, mas sempre tentando não ser datado – considere isso como uma “Seção Naftalina” ou a “Hora das Balzaquianas” – “A volta das que não foram”… enfim… já deu pra pegar a idéia, né?

Esta é só uma historinha de 8 páginas, não é a primeira do Houg, mas acho que serve pra apresentar (razoavelmente) bem o panorama do que vem a seguir. Todo esse texto enorme acima não foi só pra apresentar uma históriazinha tosca e banal de um personagem meia-boca (sejamos realistas) que é uma versão tosca, distorcida e vulgar de um desenho infantil e sim uma maneira de passar uma visualização de uma época sob um ponto de vista totalmente pessoal que justifique o tom e o contexto empregado nessas histórias como já disse antes, toscas e banais que ninguém nunca pediu mas eu fiz mesmo assim.


Saca só essa: Aquí vai um presentão de natal adiantado pra quem teve paciência de ler este longo e viajante texto acima. Ou melhor, três presentões:

1- em primeira mão e exclusivamente aquí, a primeira historia totalmente de grátis de Houg: http://www.4shared.com/file/25622958/3b0a95a1/HOUG.html -é só clicar no link ao lado e baixar!!

2- o programa pra abrir HQ, arquivos de imagem em geral, o CDisplay:http://portuguese.eazel.com/lv/group/view/kl39723/CDisplay.htm
Depois de baixar, clique no ícone Setup, instale o programa e clique com o botao direito do mouse / abrir com e escolha o CDisplay pra abrir seu exemplar recém-adquirido de Houg´s comics 1!!!

3 – como já é tradição por aquí, cada artigo vem acompanhado de um super som. Como não tenho aquí a musiquinha de abertura do desenho do Doug e muito menos compus alguma música-tema pro gibi do Houg (e nem pretendo!), vai aquí uma versão hardcore da musica de abertura do Get Along gang – que passava por aquí no SBT com o nome de A Turma. Era uma música chicletuda que mesmo quem não curtia o desenho deve conhecer e quem gosta da original também vai achar legal essa versão do Fistt que ficou espetacular.
Baixe aquí: Fistt – A Turma:http://www.4shared.com/file/25623477/29e71e84/FISTT_-_A_TURMA.html


* - era um desenho bem bobinho, mas que foi uma febre quando passou por aqui.