quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Houg Comics nº 01: Houg – O Jornaleiro


1995. 12 anos atrás. Eu tinha 13 anos, 6ª série (repeti a quinta… fazer o que… foi culpa da greve de 93), minha vida tava uma merda, meu time não tava muito bom das pernas já há algum tempo (e acredite… pra um moleque de 13 anos vidrado em futebol, isso importa muito), não tava pegando mulher nenhuma (aos 13 isso também incomoda e a tendência é piorar), o Real tava em alta, Malhação, Green Day, Offspring, Alanis e Oasis nas paradas, FHC presidente, Playstation desbancando a supremacía do Super NES, Age of Apocalipse nos gibis gringos dos X-Men, Saga do Clone, Cavaleiros do Zodíaco bombando na tv… Esse era mais ou menos o espectro que dava para se ter naquela época, se você fosse um moleque de 13 anos, mas sem ser alienado – ou pelo menos tentando não ser tanto.
Pois bem, o ano era 1995 e realmente não foi dos melhores – até teve seus momentos,mas não chegou a ser nada épico (e quando foi?), mas mesmo assim, marcante. Na TV, começava uma enxurrada de desenhos que mais tarde se tornaria uma tendência estável até hoje: os desenhos japoneses. Hoje é comum você chegar em uma banca e encontrar um porrilhão de mangas de todos os estilos, mas há 10, 12 anos atrás a coisa era diferente. O mercado de quadrinhos no Brasil se restringia apenas ao material Marvel/DC publicado (porcamente) pela Abril e revistas infantis - Disney e Turma da Mônica - e revistas informativas (Herói, Heróis do Futuro) que eram a única fonte de informação para os fãs de mangá e anime, mas que na sua maioria não passavam da segunda edição.
“P**** bicho… já foram dois parágrafos, meu… o que isso tudo tem a ver com esse tal de Houg – O Jornaleiro que ta escrito ai em cima?” - Tem tudo a ver eu digo, mas eu ainda vou chegar lá, espere eu terminar de preparar o terreno… falta pouco, ô simpatia (Brian Michael Bendis Verbose Mode ON). Mas voltando à 95, do nada iniciou um BOOM de popularidade nunca antes registrado de desenhos japoneses por aqui, começando bem modestamente com um desenho meio tosco (Nerdaiada e otakus sôfregos… por favor, please… não me amaldiçoem) de 5 marmanjos que em vez de arrumar um emprego ou uma namorada, passavam suas vidas esmurrando uns aos outros, lutando pela justiça e pelo amor (pelamor…). Ah sim, tinha também a Deusa Athena - será que era por isso que eles não ligavam de trabalhar e arranjar uma parceira pra acasalar com freqüência? Huuum…(mais uma vez, nerds indóceis, perdoem-me pela insolência). Bem, independente de sempre imaginar por que de esses caras não terem vida própria e como eles faziam para se sustentar, era bem legal assistir as aventuras de “Seiya e os outros”, como era repetido exaustivamente.
O tal anime que eu tô falando você já deve ter sacado que é Os Cavaleiros do Zodíaco, o qual eu assistia religiosamente todos os dias às 18:30/19:00 na antiga Rede Manchete – e até mesmo as reprises . E depois dele veio vários outros pra cimentar de vez o estilo do anime aqui no Brasil: Samurai Warriors, Sailor Moon, Shurato, Yu Yu Hakusho pela própria Manchete, Dragon Ball, Fly (não me lembro do nome do desenho, só sei que o moleque se chamava Fly e que era uma cópia do Goku), Reiyarth do SBT, depois Pokémon (Pika pika, pikachu!!! Picachu!! Pika pika, chu, chu! Pika Chu Pikachu, chu, chu, chu, chu!!! *) na Record, Dragon Ball Z na Band e até o Plim-Plim – mesmo que tardiamente – percebeu que o anime não era uma onda passageira e começou a exibir (com muitos cortes) em seu horário infantil alguns animes como Samurai X, Digimon e outros. Então se você não é adepto da cultura de ler quadrinhos com personagens de olhos esbugalhados em preto em branco, de sentido invertido e se incomoda de ver o crescimento cada vez maior do espaço que o mangá ocupa no mercado, já sabe à quem culpar: Seiya e os outros.
Mas trocando de pato pra ganso e continuando na mesma: em 95 o que dominava a cena era realmente o Seiya e os outros, mas também tinham outras boas opções na tv aberta pra quem não era viciado em Cavaleiros do Zodíaco. Os Simpsons continuavam firmes e fortes, na antiga Tv Colosso passavam uns desenhos bem legais como Eek the Cat, X-Men, Chipmunks (brincadeirinha…), no canal do Homem-Sorriso, os eternos Pica Pau, Tom e Jerry, Papa-Léguas… tinha muita coisa boa. E na TV Cultura, tirando aqueles desenhos holandeses, suecos, neozelandeses e tchecoslovacos que passavam no Glub-Glub (alguém ainda se lembra disso?), as duas únicas coisas boas que eles tinham lá eram As Aventuras de Tintim e o Doug – agora sim… estamos quase lá.
Produzido pela rede americana Nickelodeon, Doug era um desenho que passava na TV Cultura de sábado à noite, eu acho e era bem legalzinho. Era muito bacana assistir um desenho onde o personagem principal tinha a mesma idade que você, tinha os mesmos problemas que um garoto da sua idade tem - irmãos mais velhos, escola, paixonites não correspondidas, pentelhos enchendo o saco (em sentido figurado – e literal também, apesar de o desenho não apresentar isso explicitamente, devido à sua faixa etária ). É muito fácil quando se tem 12, 13 anos se identificar com o Doug Funnie ou encontrar um amigo boboca como o Skeeter, um escroto tipo o Roger ou uma gostosa que te deixa doidão (Patty Maionese). Era um desenho infantil bem verossímil em relação do que ele se tratava – a vida de um garoto de 12 anos – menos a parte de encontrar pessoas verdes, roxas tão facilmente por aí... Eu mesmo naquela época tinha muito em comum com o velho Doug Funnie: curtia rock, quadrinhos, desenhava… enfim, apesar de não conhecer nenhum sujeito verde, azul ou lilás. Mesmo assim garantia uma grande identificação com seus fãs, tal como os antigos gibis do Homem-Aranha em inicio de carreira nos anos 60, na fase Lee/Ditko.
Mas era 95 e pra mim não foi realmente um ano legal. Mas foi quando eu comecei à me dedicar mais a desenhar e comecei a criar umas HQ´s toscas, de principio esculachando com o que estava rolando no momento, bem no estilão MAD, só que MAIS tosco – se é que isso é possível (no bom sentido… eu sou fã da MAD, juro). Acho que por 95 não ter sido mesmo um ano legal para mim, que eu comecei desde àquela época à desenvolver um humor negro, ácido que as vezes (até eu mesmo percebo) chega à ser exagerado e inconveniente em alguns momentos e muito ofensivo pra alguns. Foi dai que surgiram muitos personagens escrachados e bizarros que eu mantive por muito tempo fazendo historinhas mequetrefes acompanhados de rabiscos as vezes indecifráveis (menos para mim, que via sempre tudo super definido).
Houg foi o primeiro dessa onda que foi surgindo dos confins mais profundos de minha imaginação depravada. Ele veio de uma idéia que eu tive depois de assistir um episodio dos Simpsons e finalmente perceber depois de uns 5 anos que Comichão e Coçadinha eram uma versão hardcore de Tom e Jerry – “Taí, vou fazer uma versão hardcore do Doug” – aí o nome já veio na hora. Ou melhor, os nomes: Houg Fancy (Doug Funnie), Toucinho (Costelinha, o cachorro), Scroter Valentino (Skeeter Valentine), Putty Catchup (Patty Maionese), Boger Kalotz (Roger Klotz)… todos versões super zoadas dos personagens do desenho. Sempre em historias bizarras, mal desenhadas, diálogos chulos, com personagens escrotíssimos, situações escatológicas, imorais e nada infantis. E com o velho Houg se f***endo em todas elas – literalmente.
Depois disso, vieram mais de 500 personagens, alguns próprios, outros sátiras de personagens conhecidos como os Pau Nos Rangers, Hougo e Caloteiros do Ridículo e a maioria baseada no mundo real, nas pessoas que eu conhecia, não escapando nem parentes – acredito que o verdadeiro humor é o humor cotidiano, da vida real, onde uma situação embaraçosa ocorrida ou presenciada pode ser 1000 vezes mais engraçada que os Zorras Total e Praça é Nossas da vida. E mexendo nas velharias, eu encontrei essas historias que estavam perdidas entre traças e a poeira do tempo (essa foi digna de um Neil Gaiman…não foi? OK… menos, menos…) e resolvi que algumas delas mereciam uma recauchutagem pra ver se resistiam ao teste do tempo. Como escanear era impossível pelo estado dos desenhos e pela (falta de) qualidade dos próprios, o que eu fiz foi manter o conteúdo (duvidoso) original e redesenha-las (toscamente) no Photoshop mesmo e dar uma arrumadinha ou outra nos diálogos e lançar por ai só por esporte. São historias que já tem mais de 10 anos, então já é de se esperar que não sejam clássicos da nona arte e nem que vão concorrer à um Eisner ou um Eagle Awards, mas que pelo menos já valham uma risada ou outra. Isso eu já acho que dá pra conseguir.
Então, esporadicamente vai pipocar por aqui alguma historia neste naipe, de alguma coisa daquela época, mas sempre tentando não ser datado – considere isso como uma “Seção Naftalina” ou a “Hora das Balzaquianas” – “A volta das que não foram”… enfim… já deu pra pegar a idéia, né?

Esta é só uma historinha de 8 páginas, não é a primeira do Houg, mas acho que serve pra apresentar (razoavelmente) bem o panorama do que vem a seguir. Todo esse texto enorme acima não foi só pra apresentar uma históriazinha tosca e banal de um personagem meia-boca (sejamos realistas) que é uma versão tosca, distorcida e vulgar de um desenho infantil e sim uma maneira de passar uma visualização de uma época sob um ponto de vista totalmente pessoal que justifique o tom e o contexto empregado nessas histórias como já disse antes, toscas e banais que ninguém nunca pediu mas eu fiz mesmo assim.


Saca só essa: Aquí vai um presentão de natal adiantado pra quem teve paciência de ler este longo e viajante texto acima. Ou melhor, três presentões:

1- em primeira mão e exclusivamente aquí, a primeira historia totalmente de grátis de Houg: http://www.4shared.com/file/25622958/3b0a95a1/HOUG.html -é só clicar no link ao lado e baixar!!

2- o programa pra abrir HQ, arquivos de imagem em geral, o CDisplay:http://portuguese.eazel.com/lv/group/view/kl39723/CDisplay.htm
Depois de baixar, clique no ícone Setup, instale o programa e clique com o botao direito do mouse / abrir com e escolha o CDisplay pra abrir seu exemplar recém-adquirido de Houg´s comics 1!!!

3 – como já é tradição por aquí, cada artigo vem acompanhado de um super som. Como não tenho aquí a musiquinha de abertura do desenho do Doug e muito menos compus alguma música-tema pro gibi do Houg (e nem pretendo!), vai aquí uma versão hardcore da musica de abertura do Get Along gang – que passava por aquí no SBT com o nome de A Turma. Era uma música chicletuda que mesmo quem não curtia o desenho deve conhecer e quem gosta da original também vai achar legal essa versão do Fistt que ficou espetacular.
Baixe aquí: Fistt – A Turma:http://www.4shared.com/file/25623477/29e71e84/FISTT_-_A_TURMA.html


* - era um desenho bem bobinho, mas que foi uma febre quando passou por aqui.

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