segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Grandes Personagens Brasileiros: O Capitão Nascimento




Cineasta brasileiro quando não cisma de fazer filme “cabeça” pra tentar ganhar o Oscar (só tentar mesmo, porquê ganhar…), até que faz alguma coisa boa de vez em quando. Principalmente quando se utiliza de alguns “recursos básicos” utilizados em quase 100% dos filmes vindos dessa retomada do cinema nacional que data de 97 para cá: violência, palavrões à rodo, mundo cão, e a chamada “realidade nua e crua”. A fórmula de fazer um blockbuster nacional é basicamente essa. Não é nenhum segredo como… sei lá… a formula da Coca Cola. E dentro desse padrões, Tropa de Elite é um filme espetacular! Tão bom ou até melhor quanto Cidade de Deus, que foi um dos precursores dessa nova onda de filmes brasileiros com uma proposta mais “in your face”, que consegue chocar e revoltar o público de pensamento mais reacionário e patriarcal (idiotas…) e fazer um monte de pentelho sair do cinema querendo ser um bandidão sangue-ruim – ou neste caso, um policial sangue-ruim e o pior… soltando uma frase do filme à cada 5 minutos.

Mas então Tropa de Elite é um filme bom? É sim, muito bom, considerando que apesar do ponto de vista “inovador” de mostrar o outro lado – o filme trata da violência do tráfico nos morros cariocas sob a ótica da polícia sem poupar criticas para todos os lados: policiais corruptos, traficantes, exploração infantil, burguesia carioca universitária, o “sistema”… nem Sua Santidade escapou de umas (merecidas) farpas – ainda assim segue a formula do mais do mesmo vista em outros bons filmes recentes como Carandiru, O Homem Do Ano, O Invasor e o próprio Cidade De Deus.

E o que faz Tropa de Elite se destacar desses outros filmes? Cada um vai ter a sua opinião e isso é que é o grande barato. Quando uma obra consegue passar diferentes significados e conclusões pra diferentes tipos de pessoas é o que faz ela (pra mim) valer a pena. Pra alguns (talvez a maioria) o efeito maior que tenha ficado seja mesmo da violência (tortura por asfixia, mauricinho queimado vivo…), escatologia (parte do treinamento no BOPE, cena do cabo de vassoura…), corrupção policial… são muitas as impressões e muitos os sabores. Na minha cabeça a primeira coisa que me vem à cabeça são as fenomenais frases de efeito. E Tropa De Elite tem várias delas. Mas pelamor… deixo bem claro aqui que não pertenço àquela corja de nerds punheteiros que quando escutam um “Faca na caveira e nada na carteira” batem umazinha no meio do cinema ou começam a sair feito retardados soltando essas pérolas em todo lugar: na escola, no trabalho, na igreja, na galeria Pajé… mas que é engraçado ouvir o Wagner Moura pagando uma de Frank Castle - o justiceiro: “O símbolo do BOPE deixa claro o que acontece quando a gente entra na favela. E a nossa farda não é azul… é preta.” Ou essa: (…) “eu já tava naquela guerra faz tempo, e tava começando à ficar cansado dela.” Quem o assistia até a um mês atrás na novela do Plim-Plim Paraíso Tropical como o merdinha Olavo e ia imaginar ver o cara – totalmente casca grossa, “cheio de marra” mandando uma dessas? São dois extremos – o típico estereótipo do vilãozinho barato de novela das oito e do outro lado o policial cachorro louco, cheio de frases marcantes no estilão Frank Miller (Cavaleiro Das Trevas, Sin City, 300). Por falar nisso, o filme tem muito da linguagem dos quadrinhos, como a forma de narrativa, como ele é contado pelo personagem, lembrando os recordatórios, aquelas legendas com o pensamento do personagem complementando o passar da historia, personagens “heróicos”, momentos impactantes… será que o Brasil agora – e finalmente - se deu conta da tendência atual das superproduções Hollywoodianas e resolveu oferecer sua versão? Se for, ficou muito bom de início e quem sabe um dia teremos um Máquina Mortífera tupiniquim, com perseguições de Variants e Chevettes no Capão Redondo ou um Stallone Cobra da Paraíba? Vamos ver… vamos ver…

Seja como for, foi um grande acerto a escolha de Wagner Moura como o carismático – do seu jeito – Capitão Nascimento. Ele provou ser um grande ator, ficando totalmente à vontade durante todo o filme e o mais importante – convincente e competente, colocando o 01 como um dos (raros) grandes personagens do cinema nacional ao lado do também “grande” Zé Pequeno, com a diferença que o Bandidão de Cidade de Deus de única boa arma tinha a clássica: “Dadinho é o caralho! Meu nome é Zé Pequeno, porra!” e o Capitão Nascimento tem um (trocadilho infame coming…) arsenal delas:
“Senta o dedo nessa porra!”… “A guerra sempre cobra seu preço. E quando o preço fica alto demais, é a hora de
Pular fora.”… “Não vai subir ninguém!!”… “é um fanfarrão.”… “O senhor é um merda.” “Bota na conta do papa”… “07! Pega a sementinha do mal!”… “Vai virar chiclete de caveira.”
… e a minha preferida, durante o treinamento dos recrutas: “Nunca serão.”e mais uma porrada delas, fora que cada “Seu viado!!!” ou um “É tú mesmo seu filha da puta!!!” tinha mais efeito do que um chute nos bagos. E é isso que faz o Nascimento se destacar de todos os outros personagens do filme. É um personagem que alem da superficial truculência, é 100% humano, tem problemas com a mulher que desaprova seu trabalho, a preocupação da chegada de um filho tendo uma profissão tão arriscada, o que acarreta num stress que compromete sua saúde e o seu desempenho no trabalho, é um policial (ao contrário de muitos, mas não todos que fique bem claro) que tenta fazer o certo, questiona seus superiores mesmo numa disciplina rígida como a mostrada da corporação do BOPE e que do seu jeito tenta fazer o seu trabalho da melhor forma possível, mesmo reconhecendo que em algumas situações se utiliza do método errado – mas que as vezes pode ser o único possível, numa guerra que é impossível de ser vencida por um punhado de homens bem-intencionados e bem-armados mesmo lutando com todas suas forças e que não é apenas contra o tráfico per si, mas contra todo o “sistema” da má vontade – “
Eu posso até te ajudar. Aliás, eu vou te ajudar. Eu quero te ajudar. Mas você tem que me ajudar… à te ajudar.”

De resto, de novo o velho mais do mesmo: PM´s corruptos, envolvidos com tráfico, prostituição… playboyzada fútil e viciada, policiais idealistas, esposa preocupada… não compensa ficar falando de um por um deles, mas vale destacar a pedrada - totalmente merecida – nos universitários filhinhos de papai e drogadinhos. Tudo ali é verdadeiro desde a boçalidade, superficialidade da maioria, as festinhas regadas á drogas, promiscuidade, a ignorância das pessoas que se deixam influenciar e “formam” sua opinião se apoiando em “jornalzinho e televisão”, o reacionarismo e a hipocrisia de alguns “ativistas” que no fundo pouco se importam com os “desfavorecidos” que dizem ajudar, Ong´s sem propósito nenhum e marchinhas baratas contra a violência. Mesmo não tendo gostado do policial Matias como personagem (muito frio e robótico na maior parte do tempo), reconheço que ele serviu como um excelente recurso de mostrar, comentar, e criticar tudo isso de uma forma bem… decente. A maior parte do “mundo real” que foi visto nesse filme foi pela ótica dele e na minha opinião foi feito muito bem, com um recado para a sociedade burguesa que precisa de um tapa na cara pra tirar seu sorrisinho irônico e olhar superior ao resto do mundo. Se bem que falando sério, a critica só é valida ao propósito de validar o conceito do próprio filme, pois acredito que não é possível dar credito total no quesito “critica” pra um filme com esse tema, afinal onde já se viu diretor de cinema “despossuído” ou “bestializado”? Então mais uma vez, não se deve adotar este e qualquer filme como postura de comportamento e filosofia de vida, mesmo que este abra a sua percepção para novos mundos, novos problemas, novos pontos de vista que não passavam pela sua mente, seja onde você more, se num apartamentinho na baixada ou em alguma biboca na perifa, no fim esta aqui é a “terra do jeitinho” onde “quem quer rir, tem que fazer rir” e tudo vem do e volta ao “Sistema”.

Pra fechar: não sou muito fã de Cinema Nacional por um monte de motivos que não vale a pena falar deles agora, mas vez ou outra passa pela peneira umas coisas muito boas e o Tropa De Elite com certeza faz parte desse “seleto” grupo. À esta altura você já deve ter assistido ou pelo menos já estar ciente de qual que é a “pegada” do filme, devido à super exposição que ele tá tendo na mídia e o seu próprio marketing que resolveu correr atrás de tentar recuperar o “prejuízo” sofrido por causa da pirataria, que - queiram ou não – ajudou a alçar mais para cima a divulgação do filme – por mais que a Globo tente dizer o contrário. Tem o diferencial de ser talvez a produção nacional que mais se aproxima estruturalmente do que é feito lá fora – já sabendo que tudo que vem lá da Gringolândia não é uma maravilha, ao contrário do que muito pseudo-critico intelectualóide acha - o que neste caso é positivo. É um filme sincero, descompromissado, sem pretensão de ser uma obra-prima, tanto é que não foi selecionado pra concorrer ao Oscar - o que as vezes é melhor, pois parece que quando o objetivo é esse, no final acaba se tornando um desserviço para o próprio filme e para a maioria do público, vide alguns (insípidos e sacais) indicados Central Do Brasil e o de agora O Ano Que Meus Pais Saíram de Ferias, ambos arrastados e insossos. Assim Tropa De Elite consegue ser divertido, engraçado, bem dirigido (só achei que podia ter sido contado totalmente de forma linear, sem aquela introdução, repetindo os acontecimentos quase da mesma maneira duas vezes) tem um roteiro bem desenvolvido, tem palavrões pra caralho e o melhor personagem (e herói nacional) de todos os tempos da ultima semana: o brutalmente sincero Capitão Nascimento, que bem que podia existir de verdade e fazer uma visitinha para Vossas Excelências em Brasília, aqueles “fanfarrões”, sentar o dedo naqueles porras e assumir de Presidente. Aposto que não ia ter tanto senador, deputado, vereador, prefeito, ministro, magistrado fazendo tanta merda por ai.
Até sugiro um slogan pra campanha:
“Você acha que os políticos brasileiros são uns puta duns safados? Então…caveira neles!”

Saca só essa: Pra seguir no mesmo ritmo, ao invés da versão original dos Titãs, vai aqui o Sepultura tocando Polícia ao vivo, com o Max Cavallera nos vocais. É como sempre, só sentar o dedo no link e baixar.


E se você ta a fim de mais porrada e humor chulo, nunca é demais e não custa também baixar o primeiro gibi do Houg que eu mesmo fiz:
http://www.4shared.com/file/25622958/3b0a95a1/HOUG.html e antes que eu me esqueça... fui eu mesmo que fiz, então não é pirataria, certo, Globo?.

Um comentário:

Fernando Fumihiro Aoki disse...

adriano, os links das contas gratuitas do 4shared são apagadas depois de algum tempo...

pendura de novo num outro!