quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Guerra Civil - Linha de frente








Bem amigos, está saindo pela Panini a mega-saga da Marvel, Guerra Civil – Civil War no original – que talvez seja a mais polemica historia já publicada em 45 anos da editora americana.

Em sua metade sendo publicada aqui no Brasil, já ocorreram diversos momentos surpreendentes, alguns totalmente forçados, apelativos e duvidosos, com conseqüências que serão sentidas nos próximos anos, nas revistas que compõem o Universo Marvel tradicional.

Segue abaixo um resuminho básico e alguns comentários sobre a saga que estremeceu as bases do
universo Marvel, mudando a vida de seus personagens.

A história (mais que manjada) até o momento:

Durante um combate entre os Novos Guerreiros (que são protagonistas de um reality show, história essa não publicada no Brasil) e alguns vilões fugitivos da Balsa, ocorre um gravíssimo acidente (como se isso já não tivesse acontecido umas 300 vezes antes na Marvel) que devasta a cidade de Stamford, Connecticut nos Estados Unidos, deixando mais de 600 mortos, entre eles os próprios Novos Guerreiros e várias crianças que estavam em uma escola nas proximidades da batalha. Com isso, ocorre uma pressão por parte da opinião pública à favor da Lei de Registro de Super Humanos do governo, que determina o alistamento de todos os… super humanos, é claro, tornando suas identidades públicas e respondendo diretamente ao governo, atuando como oficiais autorizados, sob o risco de prisão, se resistirem.

Com isso, acontece um racha na comunidade de heróis, divididos em dois lados: os favores ao registro e as identidades civis públicas, com a liderança do e os rebeldes, seguidos pelo Capitão América. A partir daí, é uma sucessão de combates sem sentido, personagens descaracterizados, e mudanças radicais que levaram certos personagens a um beco sem saída, deturpando décadas de história em prol de um evento passageiro e das vendas momentâneas, causando um desserviço ao próprio personagem e aos seus vários fãs que não se agradaram por algumas dessas mudanças.

Rumo À Guerra Civil

Antes de tudo, é preciso fazer uma análise básica do passado recente da Marvel antes de Guerra Civil pra poder comentar o evento.

Dos 2 últimos anos pra cá, tivemos a volta dos mega eventos, as grandes sagas que interligam vários – senão todos - os títulos das editoras, resultando na sua grande maioria em conseqüências nem sempre felizes. A Marvel vinha de seu último grande crossover – Dinastia M (House Of M) e reminiscências: Dizimação M. 198… e mal teve tempo para se trabalhar em cima dos acontecimentos posteriores à esses eventos e já emendaram com outra mega-saga, maior ainda que é Guerra Civil.

Talvez isso ocorreu para não ficar atrás de sua maior concorrente a DC Comics, que estava abocanhando uma fatia do mercado que anteriormente era dominado pela Marvel, com suas sagas recentes: Crise Infinita, 52, que se tornaram sucesso de público e critica. Então, para manter o interesse dos leitores e atrair a atenção para si, a Marvel preferiu optar por realizar logo em seguida de uma grande saga, outra muito maior e com objetivos mais ousados do que sua predecessora.


O resultado disso é Guerra Civil, uma mini série mensal em 7 partes que nos EUA sofreu diversos atrasos, afetando os outros títulos mensais interligados com a saga (praticamente todos). Guerra Civil tem Mark Millar no roteiro, Steve Mc Niven desenhando e as cores ficam por conta do ótimo Morry Hollowell que complementou muito bem o traço de Mc Niven com seu trabalho. Millar, que é um roteirista idolatrado pela comunidade de fanboys pelo mundo, nesta mini série está bem abaixo da média, diferente de alguns de seus trabalhos mais conceituados como os dois volumes dos Supremos, The Authority, a mini do Super Homem – Entre A Foice E o Martelo e os altamente subestimados Ultimate X-Men e Ultimate Fantastic Four.

Defendendo O Meu Lado

Ao ler Guerra Civil (e eu li toda a mini serie no ano passado) e outros trabalhos do Millar, fica a impressão de que ele deve ser um roteirista de cinema frustrado e que desconta sua frustração escrevendo gibis. Calma, nerdalhada indócil que eu vou explicar o meu ponto de vista:

Assim como Supremos, Authority, Wanted, sua passagem por títulos mais mainstream como Homem-Aranha e Wolverine e qualquer obra de Millar que saiu depois de seu estrelato, (antes de ser um escritor pop star, Mark Millar começou como “protegido” de Grant Morrison, co-escrevendo com ele títulos como Swamp Thing, Aztek – The Ultimate man, Flash e Vampirella) Guerra Civil tem alguns de seus “cacoetes” mais manjados, fáceis de serem percebidos pra quem leu as historias citadas acima: narrativa cinematográfica, cenas de impacto, momentos “Cavaleiros do Zodiaco”, frases feitas, personagens agindo fora de seu contexto… isso só pra ficar em alguns. Por exemplo: pegue qualquer historia escrita por ele e conte quantos “Oh, mas não sei o que…”, “Ah, fulano, mas bla bla bla…” vão ter. É como se todos os personagens fossem ingleses afrescalhados e arrogantes ou bon vivants canastrões.

Prestando bem atenção, todas as historias de Mark Millar seguem o padrão de seu mentor: grandes épicos com várias reviravoltas e temáticas sempre ousadas, mas diferente de Morrison, Millar não tem grande conhecimento de cronologia, se baseando unicamente nos pilares básicos da época do Stan Lee, o que compromete muitas vezes suas historias, principalmente no Universo Marvel tradicional, que depende muito da cronologia. Em entrevista à edição 192 da Wizard americana, comentando a mini-série, ambos, escritor e desenhista admitem que não conheciam a maioria dos personagens em que estavam trabalhando e que em algumas vezes sequer sabiam seus nomes. Desse modo, fica claro a escolha aleatória dos personagens durante a história, explicando assim, o por que de não ter por exemplo, uma razão lógica de cada personagem ter escolhido determinado lado no conflito.

Aí entra como suporte à saga, as revistas mensais que complementam e fazem o que a mini serie não foi capaz de fazer: deixar claro para o leitor do que a historia se tratava, pois na mini-série isso é praticamente impossível, é muita coisa acontecendo de uma vez só e a narrativa é muito atropelada, deixando um senso de coisa feita às pressas na maioria das vezes. As revistas de linha que mais estão interligadas com o evento são a dos Novos Vingadores do Bendis, que durante a saga, cada edição foca um personagem e as do Aranha que foi o personagem mais afetado pela saga e depois dela. Outros títulos legais também de se acompanhar no período de Guerra Civil: Mulher Hulk (muito bom, principalmente a reação do Jameson ao que tá acontecendo), Miss Marvel, Capitão América (onde todo mundo já sabe o que vai acontecer…), Quarteto Fantástico e o sempre espetacular X-Factor do Peter David. Fora uma porrada de mini-series e edições especiais também interligadas, a maioria desnecessária, mas algumas garantem um maior entendimento da historia.

Reportando A Guerra

Sobre a historia em si: é um exagero a reação tomada pela opinião pública ao incidente de Stamford, ainda mais se levarmos em conta que acontecimentos mais graves do que o provocado pelos Novos Guerreiros acontecem o tempo todo no Universo Marvel: quantas vezes o Hulk sozinho fez mais estragos do que essa explosão do Nitro? Só pra ficar em alguns mais recentes: a invasão de Kang na revista dos Vingadores na fase do Kurt Busiek, a destruição de Nova Iorque pelo Xorn que não era Magneto, que não era Xorn… e o massacre da Tropa Alfa e de uma cidade canadense inteira nas edições recentes de New Avengers. Todos estes foram incidentes mais impactantes do que o ocorrido em Stamford. E será que em nenhum desses tiverem vitimas infantis?

O diálogo entre a nova diretora da Shield e o Capitão América na primeira edição foi muito bom, um dos pontos altos da saga em seu todo e o combate do Capitão contra os soldados foi bem “coisa de cinema” – típico do Millar. Agora estranho é pensar que como duas pessoas que durante um longo tempo foram os melhores amigos (apesar de algumas divergências de vez em quando) como o Capitão América e o Homem de Ferro, de repente se tornarem inimigos ferrenhos, um querendo a cabeça do outro por causa de uma lei governamental, sem nem mesmo conversarem antes. Até então, eles eram parceiros de equipe e do nada, cada um está recrutando soldados para seu bando, com o objetivo de acabar com a raça do outro como se o grupo oposto fossem os piores inimigos da humanidade e não heróis que até ontem eram parceiros na luta ao crime e defensores do american way of life e bla bla bla bla bla.

Seguindo nessa linha de brechas da historia, outra coisa bizarra é o fato de a Shield e os heróis pró registro já sairem na captura dos rebeldes logo em seguida a implantação da lei, não dando nem tempo para que haja o registro voluntário. E como já foi citado acima, na mini serie não fica claro por quê determinado herói está de um lado e não de outro, a maioria servindo apenas como figurantes sem diálogos e agindo como meros robôs desprovidos de consciência, bem no naipe de personagem da Malhação.

Como leitor há 20 anos da Marvel, quase todos os personagens centrais da trama ficaram irreconhecíveis em suas atitudes e posturas pra mim: Reed Richards “cobrinha” no enterro do Golias, Doutor Estranho frouxo, Hank Pym histérico – isso é muito datado – Homem-Aranha super arrogante, fugindo totalmente da personalidade dele e o Capitão América agindo como sua contraparte Ultimate – isso vai ficar ainda mais evidente nas próximas edições. O mais fiel em sua interpretação, por incrível que pareça, foi o Homem de Ferro, agindo exatamente como ele é: um homem de negócios, que não mede esforços para realizar seus objetivos, mesmo que passe por traira aos olhos de seus ex “parceiros”. A Mulher invisível, o Tocha Humana, Emma Frost e o Pantera Negra também cumprem seus papeis.

Outra coisa à ser comentada é o excessivo uso de cliffhangers – cenas usadas para causar impacto – na mini-serie: fuga do Capitão, revelação da identidade do Aranha, aparição do Thor que não é Thor, “fim” do Quarteto Fantástico, recrutamento dos vilões pra capturarem heróis renegados… algumas vezes, esses momentos foram bem colocados e em outras ficaram totalmente gratuitos, sem considerar o que será feito disso futuramente. Exemplo disso é o caso do Homem-Aranha, que perdeu mais um de seus elementos clássicos, a identidade secreta. À curto prazo é interessante trabalhar com as conseqüências disso e a mudança radical no status, mas todo mundo sabe que isso não vai durar pra sempre e no momento já estão bolando lá nos States alguma saída porca (a medonha One More Day) pra reverter o que aconteceu aqui. O pior é que em momentos onde seriam melhor aproveitar esses cliffhangers, como “a volta do Thor” na edição 3, eles foram frouxos e puxaram o freio dizendo que era apenas um clone – saída usada freqüentemente, assim como os Skrulls – que já foram usados à exaustão também e continuarão, com a próxima pérola que vêm em seguida: Secret Invasion, mas isso é um assunto que fica pra próxima…

Certo, dá pra entender a justificativa: se caso aquele que aparece no final de Guerra Civil 3 fosse realmente o Thor, isso diminuiria em parte o impacto da edição anterior, onde o Peter assume publicamente sua identidade – pelo menos foi isso que disseram – mas o que não entra na minha cabeça é o seguinte: chega um vilão e ameaça dominar o mundo, roubar um banco e essas coisas vilanescas… ai vem o herói e bota ele na cadeia, depois o governo solta esses vilões que foram presos em primeiro lugar e botam eles de volta as ruas pra capturar os heróis que os prenderam? Sem noção, Joselito!!!

Agora pra fechar, 3 pontos à se prestar atenção:

1 – falta de coerência entre a série central e revistas interligadas: parece que teve uma puta falha de comunicação entre os diversos editores da Marvel envolvidos no evento. Muitos personagens agem de diferentes formas em cada revista. Isso, mais algumas discrepâncias cronológicas, acabam dificultando o entendimento e a coerência da saga como um todo.

2 - Os Combates: aqui no Brasil só saiu metade da saga e quantos quebras de super-herois você já viu até agora? A esta altura já era pros Estados Unidos estarem totalmente devastados e nenhum herói vivo, pela quantidade de batalhas ocorridas, tanto na mini quanto nos títulos mensais.

3 –A arte: ficou perfeito o casamento entre arte e cor da mini-série. O colorista Morry Hollowell foi muito competente em seu trabalho e complementou perfeitamente o traço de Mc Niven – que pra mim não seria o mais indicado pra ilustrar essa série, calando a boca de quem diz que a cor não é importante numa historia em quadrinhos. Méritos para os editores: essa foi uma parceria entre arte e cor tão boa quanto da dupla Alex Maleev e Matt Holingsworth em Demolidor.

Guerra Civil até o momento vem apresentando o que já era esperado pra quem acompanha as historias da Marvel nos últimos anos e principalmente o trabalho do Mark Millar: momentos bombásticos, apelativos, personagens descaracterizados, referencias a marcas e cultura pop, falta de concordância e desconsideração à cronologia. A edição 5 daqui a pouco sai por aqui, com a volta do Justiceiro ao Universo Marvel, que vai reforçar mais ainda o que digo aqui.

Talvez por estar em um momento difícil e sofrendo de uma grave doença ao escrever Guerra Civil, este é o trabalho mais fraco de toda carreira de Mark Millar – ele disse em entrevista à Wizard que escreveu a maioria da historia quando estava internado, se tratando de uma doença degenerativa que sofre já há alguns anos. Apesar de ser sempre criticado por construir historias espetaculares no inicio e finais decepcionantes, Guerra Civil mantém um nível mediano e agradou a maioria dos leitores tanto aqui quanto nos States, quebrando alguns recordes recentes de venda e chamando a atenção de novos leitores e da mídia, mas mesmo assim, foi mal planejada e executada em vários momentos. Em certas partes do evento, a narrativa cinema blockbuster de Millar não pegou e isso banalizou e reforça mais a idéia anterior de que ele – assim como outros roteiristas seguidores de seu estilo – são roteiristas de cinema frustrados, que encontraram nos quadrinhos o único meio de levar suas visões revolucionarias à alguma visibilidade.

Com o anuncio de que Millar escreverá o próximo filme do Super-Homem, é possível que saia daí o melhor filme de heróis de todos os tempos: o próprio Millar se diz um grande fã do Azulão, já teve uma boa experiência ao escrever a adaptação da versão animada do desenho do Super e sua narrativa e estilo exagerado de escrever é perfeito para o tipo exato que um filme do Super-Homem seja: batalhas épicas, efeitos especiais revolucionários, frases de efeito, grandes vilões (como isso faz falta nos filmes do Super) e tudo aquilo que faz parte de uma mega produção campeã de bilheteria. Demorou para os produtores de Hollywood perceberem que pra se fazer um bom filme de herói e principalmente de um grande personagem como o Super, é melhor deixar na mão de quem entende da coisa. O cinema de super-heróis precisa disso e eu boto muita fé que quando sair esse filme, ele será espetacular. E sem as amarras de cronologia bagunçada e interferências editoriais, finalmente Mark Millar vai ter a oportunidade de mostrar que realmente é um grande roteirista – de quadrinhos E de cinema. Só não pode chamar o Joel Schumacker pra dirigir e o Jon Peters (o cara que queria fazer um Super que não voava e sem uniforme em sua versão que seria escrita por Kevin Smith) pra produzir, que de resto tá tudo OK.


Pra quem tá acompanhado o que tá saindo por aqui, ainda vem muita coisa pela frente e mais acontecimentos “bombásticos” estão à caminho. O mundo pós Guerra Civil está vindo aí e é muito difícil pra quem leu tudo isso que tá saindo aqui há um ano atrás, falar alguma coisa sem citar nenhum spoiler, mas apesar desta critica ao evento ter sido negativa e pessimista em muitos momentos, muita coisa boa surgiu depois disso com certeza e um titulo pra se ficar de olho depois que Guerra Civil acabar é Novos Vingadores, que logo em seguida já vai preparar o terreno para a nova grande mega saga que tá vindo aí nos Estados Unidos: a invasão Skrull. Aí vai ser a vez do Brian Bendis mostrar se vai ser capaz ou não de lidar com um evento em larga escala no universo Marvel, sem muitas falhas (Dinastia M não conta) e sem deixar cagadas nos próximos anos. Mas antes disso, ainda tem World War Hulk, outra mega saga, desta vez com a volta do Verdão, que vem pra esmagar tudo, depois dos eventos que tão rolando alheios à guerra Civil, em Planeta Hulk É saga que não acaba mais… esse negocio de mega-eventos interligando um porrilhão de revistas é mesmo uma vaca gorda – tão gorda quanto o próprio Quesada, que tá ficando cada vez mais rechonchudo, parecido com um porco no rolete, daqueles que são servidos em churrascadas nos rodeios por aqui. (tinha que acabar este texto com alguma piada de mal gosto, só pra não perder o costume)

Saca só essa: pra ficar no “óvio”, como diz um corno que eu conheço, a música de hoje tem que ser Civil War do Guns: http://www.4shared.com/file/27394212/260fb80d/08_Guns_n_Roses_-_Civil_War.html só que esta é ao vivo e ao lado, links de sites com todas as revistas que compõem a Guerra Civil – as mensais, mini-series complementares e tie ins, pra quem quiser economizar algum e comprar meio quilo de carne (ou menos) pra fazer um churras com os amigos: http://civilwar.4shared.com/ e http://tudofreedownloads.blogspot.com/search/label/Marvel

Um comentário:

Anônimo disse...

Sim, provavelmente por isso e